Gosto muito
da escrita de Mário de Carvalho.
Nunca conversei com ele e encontro-o muitas
vezes no Metropolitano, nas ruas que circundam aquela onde moro, em tempos, nas
sessões de autógrafos da Festa do Avante ou da Feita do Livro, em outros
tempos, às quintas-feiras, ele almoçava, com advogados amigos, num tasco para
os lados das avenidas ditas novas, e, volta e meia também eu, com amigos meus,
também amesentava por ali.
Mário de
Carvalho nasceu em Setembro de 1944, eu em Março de 1945.
Morava na Rua
das Enfermeiras da Grande Guerra, eu na Rua Mestre António Martins, ambas para
os lados da Penha de França.
Andámos no
Liceu Gil Vicente, a caminho sentíamos o delicioso cheiro, a chocolate, da
Fábrica Favorita, ali a Sapadores, frequentámos as matinés do Cine-Oriente, do
Royal, mas nunca nos encontrámos.
Certamente
que um dia, chegarei à fala com Mário de Carvalho, para dizer não sei bem o
quê, talvez a frase gasta e idiota: «gosto muito da sua escrita.»
Tenho em
arquivo uma sua crónica publicada no Público, Março de 1993, que dá pelo
nome de Uma Bandeira na Varanda. Quando a li comoveu-me muito e ainda
hoje, quando a releio, sinto a mesma comoção.
Essa crónica
está agora reunida em O Que Eu Ouvi Na Barrica das Maçãs, o que é um
prazer e uma comoção redobrados.
Gosto de
crónicas de jornais, algumas guardo-as e fico sempre à espera que os seus
autores as reúnam em livro o que, nem sempre acontece e, infelizmente, no caso
de António Lobo Antunes, é uma decisão definitiva: nunca mais publica um livro
de crónicas.
O título do
livro de Mário de Carvalho remete para as crónicas que sob esse mesmo nome
escreveu para o Público e que é uma alusão a um capítulo de A Ilha do
Tesouro, de Robert Louis Stevenson, «O que eu ouvi na barrica das
maçãs.»
Como me
faltam unhas para tocar guitarra, digo de Mário de Carvalho o que ele, em
crónica inserta, também na barrica das
maças, diz de José Saramago:
«Eu, que sempre fui um
repentista-do-dia-seguinte, não podia deixar de admirar e de invejar uma arte
de dizer que me parecia coisa de feiticeiro. E, ainda por cima, num português
impecável, capaz de ser posto logo em papel.»
Legenda: pormenor do capítulo 11 de A Ilha do Tesouro e onde Mário de Carvalho foi buscar o título do seu livro.
2 comentários:
(também o encontrei há pouco tempo nas escadas do metro - Baixa-Chiado -, ele descia e eu subia. Ficámos por momentos a olhar um para o outro... ele deve ter percebido que eu era um "leitor", porque só quem lê livros reconhece os escritores...)
Aqui há uns meses falei com ele na FNAC do Chiado; 5 estrelas-pessoa muito amável, extremamente simpática. Sabe bem falar com pessoas assim.
Há muitos anos, também no Chiado (antes do incêndio) era eu ainda quase um miúdo (mas já lia) e gostava de falar com escritores quando por ali os encontrava e dirigi a palavra ao José Cardoso Pires que igualmente, com muita amabilidade, trocou algumas simpáticas palavras comigo, depois de lhe dizer que tinha gostado de um livro dele-era muito sorridente com uns olhos muito expressivos (os olhos foi o que mais retive).
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