quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

OLHAR AS CAPAS



O Que Eu Ouvi Na Barrica das Maçãs.

Prefácio: Francisco Belard
Porto Editora, Porto, Abril de 2019

Todos os anos, pelo 5 de Outubro, o meu pai punha uma bandeira portuguesa à varanda. Eu morava numa rua muito inclinada que se chama Rua das Enfermeiras da Grande Guerra e que era então habitada por uma pequena burguesia curvada e timorata. Mais nenhuma bandeira era hasteada na rua, nem noutras em redor, nem no bairro. Por um lado, aquela bandeira ao vento dava-me algum orgulho, porque, mesmo miúdo, sentia na minha varanda a vibração duma causa importante que – vim a sabê-lo depois – não era necessariamente a republicana; por outro lado, sofria o constrangimento de todos os gaiatos que são expostos à exibição de uma diferença. Os amigos manifestavam-me estranheza, eu não sabia que responder, e os conselhos que trazia de casa guardava-os bem guardados, porque só iriam complicar mais a relação com o meu grupo. Era uma caso, aquilo da bandeira na varanda…

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