O Que Eu Ouvi Na Barrica das Maçãs.
Prefácio:
Francisco Belard
Porto
Editora, Porto, Abril de 2019
Todos os anos, pelo 5 de Outubro, o meu
pai punha uma bandeira portuguesa à varanda. Eu morava numa rua muito inclinada
que se chama Rua das Enfermeiras da Grande Guerra e que era então habitada por
uma pequena burguesia curvada e timorata. Mais nenhuma bandeira era hasteada na
rua, nem noutras em redor, nem no bairro. Por um lado, aquela bandeira ao vento
dava-me algum orgulho, porque, mesmo miúdo, sentia na minha varanda a vibração
duma causa importante que – vim a sabê-lo depois – não era necessariamente a
republicana; por outro lado, sofria o constrangimento de todos os gaiatos que
são expostos à exibição de uma diferença. Os amigos manifestavam-me estranheza,
eu não sabia que responder, e os conselhos que trazia de casa guardava-os bem
guardados, porque só iriam complicar mais a relação com o meu grupo. Era uma
caso, aquilo da bandeira na varanda…
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