Não lembra
bem, mas um dia o pai mandou lá ir a casa um amigo fotógrafo para que tirasse
retratos à família, uma casa em que viviam os pais, a irmã, um avô paterno, uma
avó materna.
Na foto, ele
está a ler em tempo de pose fotográfica.
Na biblioteca
do pai, a estante que se vê era a da literatura inglesa. Mandou a mão e saiu um
qualquer livro para tirar o boneco, ele que nem sequer sabia ler bem o
português, exercitava-se na leitura de A Bola, ao tempo trissemanário,
que há dias fez 75 anos e ele os fará em começos da Primavera que vem a caminho,
quanto mais o inglês.
Um esgar de
flash da máquina do fotógrafo aparece reflectido no velho Nordmend, comprado
pelo pai, em suaves prestações, e onde, espantados e felizes, o primeiro
programa que a família viu, foi um Nat King Cole Show.
Reconhece,
hoje que desses Nat King Cole Show de então, alguma coisa ficou para mais tarde
ter aprimorado o gosto por crooners.
Nesse mesmo
Nordmend viu a final da 1ª Taça dos Campeões Europeus ganha pelo Benfica ao
Barcelona, uma transmissão que a determinada altura foi interrompida porque a
Eurovisão iria passar a chegada de John Kennedy a Paris.
No topo da
estante está um vaso que o «Tio» Valentim, sargento da Armada, que casara, em
segundas núpcias com a minha avó paterna, trouxera de Macau, juntamente com um
serviço de café.
Curiosamente
esse vaso quebrar-se-ia na madrugada de 28 de Fevereiro de 1969, durante o tremorde terra que alvoroçou Portugal, magnitude 8 na escala de Richter, demorou escassíssimos
minutos mas pareceram uma eternidade.
Na véspera tínhamos
enterrado o meu avõ paterno.
Sem comentários:
Enviar um comentário