William
Wrigley, milionário da pastilha elástica, ao mobilar o seu sumptuoso apartamento,
em Chicago, disse à secretária: «Meça-me aquelas prateleiras e compre-me livres
suficientes para mas encher. Arranje-me uma data de livros de um verde e um encarnado
vivos e com uma batelada de letras douradas.»
Há quem
organizasse os livros pela cor da lombada. Da esquerda para a direita, o
arco-íris de lombadas começava nas cores quentes. Seguia para neutras e
terminava nas frias. Estantes catitas de olhar.
O Eça falava
em estantes com livros para completar a mobília, apenas para completar a
mobília.
Ou quem diga
que os livros servem para ser lidos não para estarem em prateleiras.
Em As Viúvas das Quintas-Feiras de Claudia Piñeiro, a págs. 27, pode ler-se:
«Quando vi a casa pela primeira vez, o
que mais me chamou a atenção foi o escritório de Antieri, aquele que acabámos
por deitar abaixo. A ordem e limpeza que havia ali dentro intimidavam-me. Uma
estante cheia de livros forrava todas as paredes. Lombadas perfeitas, intactas,
de couro bordeaux ou verde. E duas vitrinas onde guardava as suas armas, de
diferentes calibres e modelos. Polidas, sem um vestígio de pó, brilhantes.
Enquanto percorríamos o escritório, Juani, que tinha apenas cinco anos,
aproximou-se da estante, tirou um livro, atirou-o ao chão e pôs-se em cima
dele. A lombada do livro foi abaixo. Ronie agarrou-o com um puxão de cabelos.
Levou-o lá para fora para o castigar sem testemunhas, estava furioso. Eu
ocupei-me do livro, sacudi-lhe a marca do sapato de Juani. Tentei arranjá-lo,
achei-o leve e dei-lhe a volta. Era oco. Não tinha páginas no interior, apenas
as capas duras, uma caixa de falsa literatura. Li, na lombada, Fausto, de
Goethe. Coloquei-o no seu lugar. Entre A Vida é Sonho, de Calderón de la Barca,
e Crime e Castigo, de Dostoievsky. Todos ocos. Para a direita, havia mais dois
ou três clássicos e depois repetia-se, A Vida é Sonho, Fausto, Crime e Castigo,
em letras douradas de filigrana. A mesma série em todas as prateleiras.»
2 comentários:
Ainda me lembro dos "Amigos do Livro" venderem livros a metro
...
Os Amigos do Livro, saudosa editora que trouxe a público autores de elevada importância e que se destacou pela qualidade das suas edições.
Mas isso de comprar livros a metro ou de os comprar para enfeitar a casa ou escritório, é típico dos parolos(as), ou desses mesmos que após o 25 de Novembro de 1975 esqueceram o seu passado e passaram a encher a boca com democracia (que antes repudiavam), ou a rezar o terço em honra do sr. Cunhal.
Era uma forma de armar ao cagão.
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