segunda-feira, 12 de agosto de 2024

LISBOA

 No bairro de Alfama os carros eléctricos amarelos chiavam nas subidas.

Ali havia duas prisões. Uma era para ladrões

que acenavam através das grades.

Gritavam, queriam ser fotografados.

 

“Mas aqui”, disse o guarda-freio com um risinho de hesitação,

“aqui estão os políticos.” Olhei para a fachada, a fachada, a fachada,

e no último andar, a uma janela, vi um homem

com um binóculo a olhar para o mar.

 

Roupa que fora lavada secava pendurada ao sol. As pedras dos muros estavam quentes.

As moscas liam cartas microscópicas**.

Seis anos mais tarde, perguntei a uma senhora de Lisboa:

“Aquilo era mesmo verdade ou fui eu que sonhei?”

Tomas Transtromer

Sem comentários: