Esperar o crepúsculo nestas janelas.
Não todos os dias, mas quando possível.
E o possível é quando? Já agora, o impossível também
entra?
Certamente haverá quem não compreenda que dois tipos, um no 2º andar, o outro no 4º andar olhem os pôr-de-sol.
Os entardeceres batem à porta em cada dia.
Para onde vão quando os últimos lampejos ficam, por
momentos, agarrados no horizonte?
«Na cidade quem olha par o céu?», perguntou
um dia o poeta Carlos Queiroz.
Tratado de filosofia à vista!...
Acabamos, mais cedo ou mais tarde, por acreditar no
silêncio.
No filme «Smoke» de Wayne Wang, com argumento de Paul
Auster, Auggie, dono de uma tabacaria em Brooklyn, explica a Paul, cliente, escritor
e fumador de «Schimmelpennincks», que todos os dias, tira fotografias na
esquina da Rua Três com a Sétima Avenida, às oito da manhã.
«Quatro mil dias seguidos com todos os
tipos de tempo. É por isso que nunca passo férias. Tenho de estar no meu posto
todas as manhãs. Todas as manhãs no mesmo sítio à mesma hora. É o meu projecto.
Aquilo que se poderia chamar a obra da minha vida.
São todas a mesma coisa. Tem aí manhãs
brilhantes de sol e manhãs sombrias. Tem aí a luz do Verão e a luz do Outono.
Tem aí os dias de trabalho e os fins-semana. Tem aí pessoas de sobretudo e
galochas e as pessoas de cações e T-shirts. Às vezes são as mesmas pessoas, às
vezes são outras. E às vezes as outras tornam-se as mesmas e as mesmas
desaparecem. A Terra gira à volta do Sol e todos os dias a luz do Sol incide na
Terra com ângulos diferentes.»
Auggie, quase, quase, no final do filme ainda a filosofar com Paul:
«Merda. Se não podemos partilhar os nossos segredos
com os amigos, que raio de amigo seríamos.»
A conversa vai longa, chegado é o tempo de pôr a rodar uma canção que, por não mera coincidência, faz parte da banda sonora de »Smoke» e é cantada pelo Senhor Tom Waits: «Innocent When You Dream»
Somos inocentes, enquanto sonhamos?
Ou voltar ao principio do filme quando Dennis, um outro cliente da loja de Auggie, aparece com uma T-shirt com estas palavras estampadas:
«Se a vida é um sonho, o que é que se passa quando acordo?»
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