Estas
«Entrevistas Corsárias» sobre a política e sobre a vida, estão datadas, mas
retém a importância do papel de Pasolini em tudo o que disse, tudo o que
escreveu, nos filmes que realizou.
Em Junho de
1970, perguntam-lhe:
Qual é a sua definição do amor?
- Quando falta o amor, as pessoas cessam
de viver. Focam reduzidas a nada. É melancolia, o fim de tudo. A sociedade
apercebeu-se disso e aqui está a razão de tanto tentar exaltar o amor. É uma
chave de produtividade. Sem amor, o homem não consegue produzir. Porém, ao
mesmo tempo, todos os tipos de sociedade reprimem o mundo sexual, pois a energia
que o homem consome ao fazer amor não beneficia o capital. Todas as sociedades
são, acima de tudo, puritanas. Não se pense que vivemos num período de plena
liberdade sexual, é uma ilusão.
Outra
pergunta:
Ama a vida?
- Amo-a ferozmente, desesperadamente. E
acredito que esta ferocidade e este desespero me acompanharão até ao fim. Amo o
Sol, a relva, a juventude. Para mim, o amor pela vida tornou-se num vício mais
mortífero do que a cocaína. Eu devoro a minha existência, com um apetite
insaciável. Como acabará tudo isto? Não sei.
Pasolini respondeu não saber como tudo terminaria.
Foi barbaramente assassinado, a 2 de Novembro de 1975, tinha 53 anos, em circunstâncias que ninguém procurou esclarecer.
Lembre-se o
poema que Eugénio de Andrade, nessa morte, lhe dedicou:
REQUIEM PARA
PIER PAOLO PASOLINI
Eu pouco sei de ti mas este crime
torna a morte ainda mais insuportável.
Era novembro, devia fazer frio, mas tu
já nem o ar sentias, o próprio sexo
que sempre fora fonte agora apunhalado.
Um poeta, mesmo solar como tu, na terra
é pouca coisa: uma navalha, o rumor
de abril podem matá-lo – amanhece,
os primeiros autocarros já passaram,
as fábricas abrem os portões, os jornais
anunciam greves, repressão, dois mortos
na primeira
página, o sangue apodrece o brilhará
ao sol, se o sol vier, no meio das
ervas.
O assassino, esse seguirá dia após dia
a insultar o amargo coração da vida;
no tribunal insinuará que respondera
apenas
a uma agressão (moral) com outra
agressão,
como se alguém ignorasse, excepto claro
os meretíssimos juízes, que as putas
desta espécie
confundem moral com o próprio cu.
O roubo chega e sobra excelentíssimos
senhores
como móbil de um crime que os fascistas,
e não só os de Salò, não se importariam
de assinar.
Seja qual for a razão, e muitas há,
que o Capital a Igreja e a Polícia
de mãos dadas estão sempre prontos a
justificar,
Pier Paolo Pasolini está morto.
A farsa, a nojenta farsa, essa continua.
Eugénio de
Andrade em Escrita
da Terra e Outros Epitáfios
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