Estamos em
Agosto, faz um calor de ananases, como diria o nosso Eça.
Li há uma semanas um bonito livro de Gabriel García Márquez, aqui já referido, um bonito título
Vemo-nos em Agosto, não tem o acabamento final de Gabo, mas andam por lá os
perfumes. Todos os anos a 16 de Agosto, Ana Magdalena Bach apanha o ferry que a
leva até à ilha onde a mãe está enterrada.
«O
denominador comum do livro é que tratará de histórias de amore de gente de
idade», diz Cristóbal Perra, o editor do livro.
Durante a
leitura ficaram alguns pedaços sublinhados. Este é um deles, situa-se na página
61:
«Quando recuperou o humor passava da meia-noite. Doía-lhe a cabeça, mas doía-lhe mais ter perdido a sua noite. Arranjou-se um pouco e desceu, disposta a recuperá-la. Tomou um gim com soda num tamborete do bar frente ao jardim abandonado pelos turistas madrugadores. Chegou um hermafrodita de músculos artificiais com correntes e pulseiras de ouro, cabelo dourado e a pele avermelhada com unguentes para o Sol. Tomou ao balcão uma bebida fosforescente. Ela perguntou a si mesma se seria capaz de se insinuar ao empregado do bar, que era jovem e bem proporcionado, e respondeu a si própria que não. Chegou a interrogar-se sobre se seria capaz de sair par a rua e mandar parar automóveis até encontrar alguém que lhe fizesse o favor de seu gosto, e a resposta foi a mesma: não. Perder a noite era perder um ano, mas eram três da madrugada e não havia remédio: perdera-o.»
Sem comentários:
Enviar um comentário