Crónica de Manuel António Pina no Jornal de Notícias de hoje:
O bispo de Beja apelou aos crentes para que se juntem à ministra Cristas e rezem para que chova, advertindo no entanto que "não basta repetir as palavras das orações", pois o truque está em "rezá-las com frequência e intensamente".
A crer no bom homem, "há muitas semanas que a terra não recebe umas pingas de chuva" porque os crentes "não se fazem ouvir e a maioria da população não acredita na providência divina, mas somente na previdência de Bruxelas". "Noutros tempos - observa melancolicamente - já se teriam levantado súplicas ao Céu a implorar a graça da chuva". Agora, "algumas pessoas ainda falam da ajuda de S. Pedro, mas com pouca convicção"...
Está seguro o bispo que, algures no processo de evaporação/transpiração-condensação-precipitação do ciclo da água, há um momento em que S. Pedro intervém despachando favoravelmente os requerimentos dos crentes para que chova. Ora se os crentes preferem dirigir-se ao comissário da Agricultura e Desenvolvimento Rural, é natural que o santo, desautorizado, reaja mal: "Ai é? Então Dacián Ciolos que faça chover..."
E não é que, como diria Alexandre O'Neill, o bispo "tinh'rrazão"? Os crentes corresponderam tão rapidamente ao seu apelo que o Instituto de Meteorologia já anunciou o regresso da chuva para quinta-feira. Só que a coisa não terá sido feita com "frequência" e "intensidade" q.b. e, por isso, apenas se esperam uns aguaceiros, e só durante dois dias.
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