Porque a recusas, esta cidade despovoa-se, o granito
torna-se subitamente um resina pegajosa e hostil.
As gaivotas fogem para o mar com gritos roucos, um
arrepio atravessa as ruas como sinal de inverno.
Encontro as portas fechadas ao longo das paredes; um
curto circuito acaba de apagar o sol, a lua vazia ergue
uma maré que escava furiosamente as paraias.
O espaço minga, as folhas secas tombam com um riso
grato: sabem que foram nas árvores a última primavera.
Um coração está pousado no solo e eu tropeço na sua
Derradeira pulsação. Já o vi algures, creio, antes do medo.
Egito Gonçalves em Luz Vegetal, Limiar, Lda, Porto, Dezembro de 1975
Nota do autor: Luz Vegetal inclui um ciclo de poemas escrito em um ano: de Setembro de 1971 a Setembro 1972. Este poema enviado para um jornal de província, foi proibido pela censura.
Legenda: fotografia de Eduardo Gageiro.
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