Declaração de interesses: gosto de futebol.
Os meios de comunicação social derem a conhecer ao país que, esta manhã, sua excelência o presidente da república, Aníbal Cavaco Silva, recebeu Mário Figueiredo, uma outra presidencial excelência.
Sei que sua excelência, muito dificilmente, arranja um tempinho para ouvir os representantes dos trabalhadores, ou os dirigentes dos partidos da oposição, mas com o presidente da liga portuguesa de futebol profissional, a coisa foi rápida.
O sr Mário foi dizer ao senhor Aníbal que ele terá de apelar à nação para que esta trate, com a dignidade que lhes é devida, os árbitros do pontapé na bola.
As notícias não dizem se o sr. Figueiredo terá falado da desonestidade, da corrupção, da incompetência dos homens do apito, dos dirigentes dos clubes e demais maltosa, mas ficou o recado expresso: se o povo continuar a cagar na malga, onde come a única alegria que ainda tem, a malta do apito entra em greve.
Nos dramáticos dias que o país vive, esta gente do futebol pensa que é um mundo à parte, um mundo de mediocridade, é certo, mas onde, porventura gostamos de nos rever.
Cinquenta anos de ditadura não ensinaram que, quando só vemos e discutimos futebol, apenas estamos a meter golos na nossa própria baliza.
Volto a invocar a declaração de interesses que deixei no início da prosa, mas apetece-me citar o escritor Mário de Carvalho:
A maior alegria que me podiam dar era proibir a porcaria do joga da bola e meter na cadeia essa pardalada.
Legenda: imagem do Diário de Notícias.
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