terça-feira, 20 de março de 2012

HÁ SILÊNCIOS QUE DOEM!


Em plena ditadura (1960) Alexandre O’Neill escreveu o Poema Original do Medo.

As suas palavras avisavam que o medo ia ter tudo, penso no que o medo vai ter e tenho medo, que justamente o que o medo quer e cada um por seu caminho havemos de chegar todos a ratos.

Para ainda ficarmos entre poetas, cite-se o francês Eugène Guillevic quando escreveu: é mau quando a gente se habitua.

O povo e os trabalhadores portugueses não necessitam que lhes falem dos números de desempregados, das famílias que se deixaram loucamente endividar pelos bancos, porque, diariamente, sentem isso na pele.

Os que nos conduziram, à precaridade, ao estado de miséria, sim miséria!, em que vivemos, passeiam-se, por aí, na maior das impunidades.

Botam discurso, dizem que nos temos de sacrificar, até ao limite da fome, para que a banca não vá ao fundo, para que eles possam continuar a usufruir de chorudos ordenados de benesses múltiplas e várias.

Uma aberrante que é eurodeputado do CDS no Parlamento Europeu, em entrevista, arrotou um destes dias:

Cada greve feita acaba por ser uma machadada na imagem do país.

Tempos dramáticos, os tempos que vivemos.

Mais, ainda, quando olhamos a atónita passividade, com que grande parte dos portugueses enfrenta a dramática situação e sem que pressinta, nem de perto nem de longe, qualquer luzinha ao fundo do túnel

É aqui que entra o medo de que falava o O’Neill?

É!

O medo paralisou os portugueses.

Mas dizer: quando a situação pode depender de nós, há que lutar, há que vincar a forte indignação a que temos direito.

Para podermos chegar á tal cidade sem muros, nem ameias, de que já falava José Afonso, ou o Elogio de Um Revolucionário, de que falava um tal de Bertold Brecht:

Quando aumenta a repressão, muitos desanimam.
Mas a coragem dele aumenta.
Organiza sua luta pelo salário, pelo pão
e pela conquista do poder.
Interroga o capital:
De onde vens?
Pergunta a cada ideia:
Serves a quem?
Ali onde todos calam, ele fala
E onde reina a opressão e se acusa o destino,
ele cita os nomes.
À mesa onde ele se senta
 senta-se também a insatisfação.
A comida sabe mal e a sala  torna-se estreita.
Aonde o perseguem chega a revolta
e de onde o expulsam persiste a agitação.

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