Para a História, a morte de Eduardo Guerra Carneiro está datada de 3 de
Janeiro de 2004.
Foi nesse dia que o encontraram na laje do prédio onde vivia, ali ao Príncipe
Real, mais concretamente, na Travessa do Abarracamento de Peniche.
Dos vulcões gostava de falar, em tom de arrepio, como se um vento de fogo cortasse de súbito os sonhos.
Um voo filho da puta pôs fim à solidão do Eduardo Guerra Carneiro.
Foi então que vi luzir no firmamento as claraboias da minha salvação.
De há muito tempo, mesmo muito tempo, entendi os findares e os começos dos anos como qualquer coisa que não me traz qualquer espécie de sobressalto.
O sacana do Enrique Vila-Matas costumava dizer: sou optmista, mas as coisas acabam sempre mal.
Mas aconteça o que acontecer, vou sempre à estante buscar um livro do Eduardo, um qualquer.
Este ano veio à mão Lixo.
Este ano veio à mão Lixo.
Foi quando me recordei que o Baptista-Bastos citara o livro em O Cavalo a Tinta-da China.
Já lá vão nove anos que o Eduardo, tal como o mesmo Baptista-Bastos escreveu, se atirou para o céu.
Já ninguém (quase) se lembra, já ninguém (quase) o lê.
Quando soube da morte do Eduardo, o Jorge Silva Melo escreveu no Público, que era importante fazer sair um livro, um livro desarrumado e incerto, com as muitas coisas que, com toda a certeza, o Eduardo deixou.
Até hoje, ninguém mais falou desse livro, nada se sabe desses papéis, desses poemas, dessas cartas, dessas crónicas, dessas desarrumações.
Mas um destes dias, por um outro assunto, terei que ir visitar o Vitor Silva Tavares à & etc., e hei-de perguntar-lhe por tudo isso, ele que foi atento editor de alguns dos seus livros.
Quase adivinho o que me dirá.
E serão tristes os motivos de que, certamente, me dará conta.
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