segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

OLHAR AS CAPAS


Tartarin de Tarascon

Alphonse Daudet
Tradução de Pandemónio
Colecção Horas de Leitura nº 16
Guimarães Editores, Lisboa s/d


- Mas então!? - há-de o leitor dizer-me. - Se a caça é tão rara em Tarascon, que diacho fazem os caçadores tarasconeses todos os domingos?
O que fazem?
Oh! Meu Deus! Vão para pleno campo, aí a umas duas ou três léguas de Tarascon. Reúnem-se em grupos de cinco ou seis, estendem-se tranquilamente à sombra do muro de um poço, de uma parede velha, de uma oliveira, sacam das bolsas um bom naco de vaca assada, cebolas cruas, um paio, algumas anchovas, e começam um almoço interminável, regado por um daqueles vinhinhos do Ródano, que fazem rir e fazem cantar.
Depois do que, já bem refeitos, levantam-se, assobiam aos cães, carregam as espingardas e põem-se a caçar. Quer dizer, cada um daqueles senhores pega no próprio boné lança-o ao ar com toda a força, e atira em voo, com 5, 6 ou 2 - conforme as convenções.
Aquele que mais chumbo mete no boné é proclamado rei da caça e volta à noite em triunfo para Tarascon, com o boné crivado de buracos, pendurado no cano da espingarda, no meio do ladrar dos cães e das fanfarras.
Escusado será dizer-lhes que se faz na cidade um grande comércio de bonés de caça. Há até chapelarias que vendem bonés furados e rotos já de antemão para uso dos menos destros; mas para estes, só há um freguês: é o farmacêutico Bézuquet. É uma desonra!

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