domingo, 27 de janeiro de 2013

OS CLÁSSICOS DO MEU PAI


Já por aqui falei do gosto especial que o meu pai tinha pela 3ª Sinfonia de Beethoven.

Vou lendo alguns livros que, por isto ou por aquilo, ficaram para trás, relendo outros, vou encontrando coisas novas e outras que a primeira leitura não deixou qualquer registo.

É o caso das conversas que Álvaro Cunhal manteve com Catarina Pires – Cinco Conversas com Álvaro Cunhal, publicadas pela editora Campo das Letras, Porto Abril de 1999.

Se a morte não o tivesse levado antes, o meu pai teria ficado muito feliz ao saber da opinião de Álvaro Cunhal, sobre a 3ª Sinfonia, mais concretamente sobre o 2º andamento, A Marcha Fúnebre.

Nós ouvimos marchas fúnebres, protocolares, que nos levam a imaginar as pessoas a perfilarem-se, hirtas, prestando homenagem ao morto. Ouvimos outras que nos sugerem o choro pelos mortos, marchas fúnebres que provocam uma reacção de tristeza e sofrimento. Mas a marcha fúnebre da Sinfonia nº 3 de Beethoven, sendo solene, não é protocolar e, ao mesmo tempo que chora os mortos, encoraja os vivos. Em Portugal podíamos dizer: morreram uns, mas a luta continua. É o sentido dessa marcha fúnebre. Não é só a beleza do som musical. Ela traz-nos qualquer coisa mais que excede essa beleza, vai além dessa beleza e é um elemento da beleza e do valor artístico da obra.

Ocorre-me a Jornada, poema de José Gomes Ferreira para música de Fernando Lopes Graça:

Porque nenhum de nós anda sozinho e até os mortos vão ao nosso lado.


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