quinta-feira, 17 de janeiro de 2013
PRÉMIOS, PREMIADOS, DESPREMIADOS
John Steinbeck ganhou o Prémio Nobel da Literatura em 1962.
Como passados cinquenta anos a Academia Sueca abre os ficheiros que contém as actas da atribuição dos prémios, ficou, agora, a saber-se que a atribuição do Nobel a Steinbeck aconteceu porque a Academia considerava não existir nada melhor.
Na lista dos finalistas desse ano encontravam-se o dramaturgo francês Jean Anouilh, a escritora dinamarquesa Karen Blixen e os britânicos Lawrence Durrell e Robert Graves.
Karen Blixen foi retirada da lista por ter morrido naquele ano, as hipóteses de Anouilh esgotavam-se porque Saint-John Perse vencera o Nobel em 1960 , quanto a Lawrence Durrell, foi considerado que não estava maduro o suficiente para receber o prémio, já para não falar do erotismo que navega na sua obra, Robert Graves era um poeta britânico e a Academia, enquanto Ezra Pound estivesse vivo, tendo em vista as suas simpatias pelo fascismo italiano, não daria o prémio a um poeta inglês.
Restava John Steinbeck que, para além de outras obras, já publicara A Um Deus Desconhecido, As Vinhas da Ira e Ratos e Homens.
Considerar que estas obras não têm o valor para atribuir um Nobel ao seu autor é, no mínimo estranho, bizarro, não dá mesmo para acreditar.
Curiosamente, Steinbeck, no discurso da entrega do prémio, manifestara as suas dúvidas se não existiam outros autores, autores que reconhecia e respeitava, que não merec4essem ganhar o Nobel, mas isso é apenas Steinbeck numa de humildade.
Não leio livros porque os seus autores ganharam o Nobel, não vejo filmes porque os seus realizadores venceram óscars da Academia, não ouço música por lhe ter sido atribuída um qualquer prémio.
Já era, há muito, seu leitor, entusiasmado leitor, quando José Saramago recebeu o Nobel.
As razões da Academia, os estranhos critérios, na atribuição do Nobel a Steinbeck, voltam a pôr a nu as omissões que se têm verificado, as atribuições a gente que hoje ninguém sabe quem foi, ou, sequer que livros escreveram.
Jorge Luís Borges, por exemplo, não recebeu o Nobel devido ao seu alinhamento político que manteve com a ditaduras argentina.
Pode-se, discordar... mas Jorge Cortazar contava que Jorge Luís Borges recusara assinar um manifesto contra a ditadura, alegando que não sabia de nada.
Amargamente, Cortazar, lembrou que ele vivia junto do edifício da polícia política.
É cego, mas não surdo, e, certamente ouviu, os gritos dos suplicantes encarcerados.
O meu livro preferido de Steinbeck é A Um Deus Desconhecido, mais do que As Vinhas da Ira um grande romance que originou um admirável filme realizado por John Ford.
O começo do livro mostra logo a envolvência poética que percorre todo o livro, aquela frase solta, com humildade:
A terra vai deixar de chegar, senhor pai.
E, apesar das reticências do pai, este acaba por o abençoar e ele parte em busca dessa terra, uma terra que ali não esticava.
Depressa veio o Inverno, com a neve alta, e o ar enregelou-se em agulhas. Durante um mês Joseph vagueou pela casa, custando-lhe abandonar a sua juventude e todas as fortes recordações materiais da juventude; mas a bênção paterna desligava-o de tudo. Era um estranho naquela casa e sentia que os irmãos ficariam contentes quando ele se fosse embora. Partiu antes da chegada da Primavera, e as colinas da Califórnia estavam cobertas de verde quando ele lá chegou.
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