quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

OS TRAUMATIZADOS DA GUERRA COLONIAL


Guerra colonial.

Quantos mortos? Quantos feridos? Quantos estropiados?

Quantos, os que vivem com distúrbios, com dificuldades de adaptação social, familiar e laboral?

Estes, são os números difíceis de contabilizar porque uma grande parte dos casos nem sequer são conhecidos.

Apenas se sabem que existem.

Cenas da guerra colonial e grupo de ex-combatentes durante uma terapia de grupo. Vinte anos depois há portugueses que não conseguem esquecer os episódios mais violentos por que passaram durante a guerra colonial. A sua vida ficou alterada, têm dificuldades em integrar-se na sociedade, sofrem de pesadelos e insónias e são perseguidos ou por sentimentos de culpa ou pela recordação dos anos de violência. As feridas de guerra não cicatrizaram, pensam que estão «sozinhos no mundo». Mas descobriram que há outros nas suas circunstâncias que compreendem os seus problemas e lamentam as atrocidades cometidas.

Expresso, 1 de Julho de 1989

Voltamos aos números.

Num artigo publicado em 1992 na Revista de Psicologia Militar, da autoria de um grupo de psiquiatras (Afonso de Albuquerque, António Fernandes, Edite Saraiva e Fani Lopes), calculava-se em 140 mil o número de portugueses portadores de distúrbios psicológicos crónicos resultantes da participação na guerra colonial. Destes, 40 mil têm perturbações mais profundas designadas por “pós-stress traumático”.

Quer que lhe fale da guerra? Então oiça. Na minha primeira operação, entrámos e saímos de uma aldeia a fazer fogo sem avisar. Pensávamos que tínhamos matado toda a gente. Quando voltámos atrás, encontrámos uma velhota, pequenina e frágil, encostada à porta de casa. Não sei como conseguiu sobreviver. Entrámos a matar e eles nem sequer estavam aramados para se defenderem. Foi uma acção de puro banditismo que me marcou bastante. A guerra foi isto.

Depoimento de um ex-militar publicado Diário de Notícias, s/d


Recorte publicado no Público de 12 de Fevereiro de 1999.

(Continua)

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