Para o meu primo Mário, essencialmente, o Natal são as luzes.
Como todos os anos, cumpriu o habitual programa: percorrer as ruas da cidade, olhar as iluminações, ver a azáfama das pessoas: umas a fazer compras, outras simplesmente a olhar as montras.
Há dias, com muita amargura, dizia-me que até esse prazer simples lhe roubaram.
As iluminações são praticamente inexistentes, e as que vemos são de uma pobreza franciscana.
O problema é que hoje não serviria de nada apanhar o barco até à Trafaria, sabe como é o Inverno. Aliás, hoje nem sequer dava para sair de casa. Eu explico. Esta parte da cidade encheu-se de luzes de repente. É o mesmo todos os anos, por esta altura. Luzes à volta das árvores, por cima das ruas, nas montras das lojas e dos cafés. Luzes de todas as cores. Uma loucura. Homens grotescos com nomes ainda mais grotescos esticando quilómetros de cabos sobre as nossas cabeças. O que é que dá nesta gente para, de um dia para o outro, decidir encher tudo de luzes? Não pensarão nas pessoas? Não lhe ocorrerá, nem por um segundo, o quanto isto pode ser terrível? Já não falo da economia. Mas dos pássaros.
Esta citação é tirada de uma história de João Ricardo Pedro, publicada no Expresso de 15 de Dezembro.
Felizmente que o meu primo não lê o Expresso, tão pouco frequenta blogues porque nem internet tem.
Certamente que ficaria fulo.
Acontece que também gosto de iluminações de Natal, mas compreendo a ironia do escritor.
Também andei por Lisboa.
Acabado o passeio, senti-me sem conseguir lidar com uma melancolia parva para a qual não tenho palavras.
Fica aqui o desalento que encontrei.
Rua do Ouro: uma estrela por cada quarteirão.
Rossio: uma bola colorida, um carroucel, cheiro a algodão doce.
Rua Morais Soares: duas estrelas perdidas na imensidão da rua. A que se vê em primeiro plano, uma outra, lá muito ao fundo.
Para o ano será muito pior, arriscou o meu primo.
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