Ouvíamos
sobretudo rádio; durante muito tempo, não tivemos gira-discos. Muita BBC. A
minha mãe era uma sintonizadora, de dedos irrequietos. Óptimos músicos
britânicos, orquestras de dança do Norte, os habituais nomes dos espectáculos
de variedades. Belíssimos músicos. Só material de primeira. Se a música era
boa, a Doris dava com ela, e eu cresci nessa procura constante de música. Ela
dizia-te de chofre se um músico era bom ou não. Que musicalidade a dela,
Ouvíamos uma voz, toda a gente a pensar que seria um grande soprano, e ela: «Só
guinchos.» Isto antes da televisão, Cresci a ouvir música maravilhosa,
incluindo algum Mozart e Bach lá ao fundo; na altura, custavam-me a engolir,
mas mesmo assim absorvia-os, Basicamente, era uma esponja musical. E ficava
fascinado quando via alguém tocar. Músicos de rua, um pianista num pub –
atraíam-me como o mel a uma mosca. Os meus ouvidos bebiam nota após nota. Pouco
importava se desafinassem: eram notas no ar, ritmos, harmonias que bailavam nos
meus ouvidos. Como uma droga. Uma droga muito mais forte do que o cavalo, para
dizer a verdade. Fui capaz de largar o cavalo; nunca seria capaz de largar a
música. Uma nota leva a outra, nunca sabes bem o que virá a seguir, nem queres
saber. É como seguir em frente numa maravilhosa corda bamba.
Se
não me engano, o primeiro disco que comprei foi Long Tall Sally, do Little
Richard. Fantástico ainda hoje. Um bom disco só melhora com a idade. Mas o que me
deu mesmo a volta à cabeça, numa noite em que sintonizei a Rádio Luxemburgo,
quando já há muito devia era estar deitado e a dormir, foi Heartbreak Hotel.
Uma verdadeira explosão. Era a primeira vez que ouvis a canção. Nunca tinha
ouvido nada assim. Nem sabia quem era o Elvis, mas foi como se estivesse à
espera daquele momento. Quando acordei, no dia seguinte, não era a mesma
pessoa.
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