quarta-feira, 3 de setembro de 2014

OLHAR AS CAPAS


Esteiros

Soeiro Pereira Gomes
Capa e Desenhos: Álvaro Cunhal
Editorial Gleba, Lisboa, Novembro de 1946

Rolam dias iguais a todos os dias; o Outono chega, cavalgando o vento. E Gineto mantém a mesma fé de quando entrou na prisão.
Através da cela, ouve tropel de cavalos e alarido de muito povo, a entrecortar um sussurro distante, confuso, de música e tiros e vozes… É a feira. Gineto anima-se, crente de que os companheiros virão buscá-lo neste dia de festa, trazendo Rosete com eles. Encosta a face às grades, espera o regresso à vida livre.
Uma voz canta, mesmo por baixo da janela, uma canção que ele ouviu, certa tarde, no alto do mirante. Então grita_
 Gaitinhas! ‘tou aqui, Gaitinhas!
Mas a voz afasta-se. Gaitinhas-cantor vai com o Sagui correr os caminhos do mundo, à procura do pai. E, quando o encontrar, virá então dar liberdade ao Gineto e mandar para a escola aquela malta dos telhais – moços que parecem homens e nunca foram meninos.

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