quarta-feira, 10 de setembro de 2014

OLHAR AS CAPAS

Novo Cancioneiro

Prefácio, Organização e Notas: Alexandre Pinheiro Torres
Capa: Mário Caeiro sobre ilustração de Carlos Marques
Editorial Caminho, Lisboa, Dezembro de 1989

Perguntamos agora: teria havido factores externos que levaram o neo-realismo a uma tomada de consciência que fosse nova ou diferente da que caracterizava a geração anterior? Ouçamos o diagnóstico de um dos escritores históricos do movimento: José Marmelo e Silva:
«Que era o mundo para um jovem nos anos 35-39? Que era a Europa? Que era o país? Que era cada um de nós?
Em 35 surge o primeiro grande sinal da loucura de Hitler, pondo dentes de aço nas insaciadas bocas alemãs (E queda-se o pacato mundo a ver)… A nós portugueses, a guerra civil aqui ao lado bem nos mostrara, atroz, o odor acre da carnificina (…)
Olhando, enfim, as nossas culpas ao espelho, - o que era Portugal? Portugal era mais uma vez o país das grandes crises absolutistas, do Santo Ofício, dos Mártires da Pátria, do Pina Manique, do António Oliveira Salazar (Salazar, Salazar) E custa a crer (…) Onde os direitos humanos no Portugal de 36-39? Onde o trabalho e a justa remuneração? Quantos desempregados (em estatísticas que se não faziam)? Tudo pesado, sombrio, asfixiante. A literatura política, que por eufemia se houve de chamar Neo-Realismo, germinou sob a temperatura fria de estufas policiais. Poderá dizer-se que a invocação a Marx, ignorado pelo realismo queirosiano, rompeu do anonimato e das grades (ou subterrâneos) das prisões.»

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