segunda-feira, 1 de junho de 2015

JUNTA-SE À BANDA OUTRO GAJO


Quando tocamos ao ar livre, junta-se à banda outro gajo – São Pedro. Ou ele está bem disposto ou manda vir um vento na direcção errada, desviando o som consigo. Alguém acaba por levar com o melhor som dos Stones do mundo – a três quilómetros de distância e sem sequer o ter pedido. Felizmente, tenho a minha varinha mágica. Antes de o concerto começar, na altura do controlo de som, repito sempre o mesmo ritual: pego numa das minhas varetas e faço uns sinais cabalísticos para o céu e no chão do palco. «Já está; vai haver bom tempo.» É um fetiche, mas se apareço num concerto ao ar livre sem uma vareta, toda a gente acha que estou doente. Normalmente, pouco antes de o espectáculo começar, o tempo fica bom.
Alguns dos nossos melhores concertos decorreram sob as piores condições inimagináveis. Em Bangalore, da primeira vez que tocámos na Índia, a monção rebentou a meio da primeira canção e manteve-se até ao fim. Eu mal podia ver os trastes da guitarra, com tanta chuva a jorrar e salpicar. «Monção em Bangalore»; ainda hoje, é assim que nos referimos a essa noite. Granizo, neve, chuva, seja o que for – o público aguenta sempre. Se lá ficares com ele, por piores que sejam as condições, não arreda pé: fica ali a curtir o rock e a ignorar a meteorologia. O pior é quando vem uma vaga de frio. Quando tens os dedos gelados, torna-se mesmo difícil trabalhar. Nas raras vezes em que acontece -, o Pierre arranja-nos uns sacos térmicos para aquecermos os dedos por uns minutos antes da canção seguinte, só para ter a certeza de que não enregelam.

Keith Richards em Life

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