Quando tocamos ao ar livre, junta-se à banda outro
gajo – São Pedro. Ou ele está bem disposto ou manda vir um vento na direcção
errada, desviando o som consigo. Alguém acaba por levar com o melhor som dos
Stones do mundo – a três quilómetros de distância e sem sequer o ter pedido.
Felizmente, tenho a minha varinha mágica. Antes de o concerto começar, na
altura do controlo de som, repito sempre o mesmo ritual: pego numa das minhas
varetas e faço uns sinais cabalísticos para o céu e no chão do palco. «Já está;
vai haver bom tempo.» É um fetiche, mas se apareço num concerto ao ar livre sem
uma vareta, toda a gente acha que estou doente. Normalmente, pouco antes de o
espectáculo começar, o tempo fica bom.
Alguns dos nossos melhores concertos decorreram sob as
piores condições inimagináveis. Em Bangalore, da primeira vez que tocámos na
Índia, a monção rebentou a meio da primeira canção e manteve-se até ao fim. Eu
mal podia ver os trastes da guitarra, com tanta chuva a jorrar e salpicar.
«Monção em Bangalore»; ainda hoje, é assim que nos referimos a essa noite.
Granizo, neve, chuva, seja o que for – o público aguenta sempre. Se lá ficares
com ele, por piores que sejam as condições, não arreda pé: fica ali a curtir o
rock e a ignorar a meteorologia. O pior é quando vem uma vaga de frio. Quando
tens os dedos gelados, torna-se mesmo difícil trabalhar. Nas raras vezes em que
acontece -, o Pierre arranja-nos uns sacos térmicos para aquecermos os dedos
por uns minutos antes da canção seguinte, só para ter a certeza de que não enregelam.
Keith Richards
em Life
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