30 de Junho de
1975
FUGIRAM de
Alcoentre 88 pides.
O recorte
pertence à primeira página do Diário de Lisboa.
Pela sua leitura
fica a saber-se que na Penitenciária de Alcoentre estavam detidos 843 agentes
da PIDE/DGS.
De uma prisão,
considerada pelos técnicos como uma das mais seguras da Europa, os ex-agentes
conseguiram descer os altos muros servindo-se de escadas improvisadas com
ferros das camas, presos por cordas de plástico.
Do estranho e
insólito acontecimento, José Carlos Ary dos Santos e Fernando Tordo escreveram
o Fado de Alcoentre.
A introdução
recitada por Ary dos Santos:
Mas enquanto homens lutavam com uma entrega total
Outros homens conspiravam contra o novo Portugal
Essas hienas que apertavam o garrote da tortura
Enquanto a Democracia se distraía em ternura
Esses homens que hoje saem da prisão em liberdade
Cães que rosnam, cães que traem, e passeiam na cidade
A letra do fado:
Que se passa?
Então isto não é uma ameaça?
Ali andou
mãozinha de reaça.
Deixaram fugir
mais oitenta e nove…
Que se passa?
Então isto não é uma ameaça?
Ali andou
mãozinha de reaça.
Deixaram fugir
mais oitenta e nove…
Os pides
desceram pela corda alegremente.
Os guardas
andavam passeando em Alcoentre.
E a esquerda
levou com mais um corno pela frente.
Esta maldade não
se faz à gente.
Que merda!
As grades foram
todas serradas a preceito.
A fuga
aproveitou-se do que era imperfeito.
E a esquerda,
por causa da vergonha deste feito,
pode apanhar uma
bala no peito…
Que merda!
Quem foram os
que de fora das grades ajudaram?
Quem foram os
que dentro das grades os armaram?
A esquerda não
esquece tubarões que a torturaram.
Não pode perdoar
se a enganaram.
Que merda!
Agora, a
vigilância é tudo o que nos resta.
Pr’ós pides, a
vida na prisão… era uma festa.
E a esquerda tem
mais do que razão quando protesta,
pois pode
apanhar um tiro na testa…
Que merda!
NO DIA 26
MOÇAMBIQUE tornou-se independente.
Do Rovuma ao
Maputo.
Samora Machel é
o presidente da República Popular de Moçambique, o 34º maior país do mundo
Em nome do
governo português esteve presente Vasco Gonçalves.
À partida para
Maputo, Vasco Gonçalves dissera: não recebemos lições de ninguém em matéria
de descolonização.
Na conferência
de imprensa, após a cerimónia da investidura de Samora Machel, disse:
Nós pensamos que as relações de novo tipo que Portugal
está estabelecendo com as nações que hoje estão ascendendo à independência, foi
a Guiné, hoje Moçambique, dentro de poucos dias cabo Verde, mais tarde Angola e
os outros territórios, nós pensamos que estamos dando ao Mundo um exemplo de
fraternidade, um exemplo de amistosidade, um exemplo de encarar com a maior
nobreza e com a maior esperança as novas relações que se estão estabelecendo.
Pensamos que estas relações podem ser seguidas por todos os povos do Mundo no
caminhada independência de todos esses povos no caminho da paz, do progresso e
do bem-estar da Humanidade
Fontes:
- Acervo
pessoal;
- Os Dias
Loucos do PREC de Adelino
Gomes e José Pedro Castanheira.
Sem comentários:
Enviar um comentário