sábado, 13 de junho de 2015

OLHAR AS CAPAS


Rosto Precário

Eugénio de Andrade
Capa: Armando Alves
Editor Limiar, Porto, Setembro de 1979

As palavras são o ofício do poeta, parece-me que foi Cesare Pavese que o disse, e ofício rigoroso, acrescento eu. As palavras são a nossa condenação. Com as palavras se ama, com as palavras se odeia. E, suprema irrisão, ama-se e odeia-se com as mesmas palavras! Como Jano, são bifrontes: nelas se caminha na noite, nelas se caminha no dia. Quanto a mim, gosto das palavras que sabem a terra, a água, aos frutos de fogo do verão, aos barcos no vento; gosto das palavras lisas como seixos, rugosas como pão de centeio. Palavras que cheiram a feno e a poeira, a barro e a limão, a resina e ao sol.

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