Rosto Precário
Eugénio de
Andrade
Capa: Armando
Alves
Editor Limiar,
Porto, Setembro de 1979
As palavras são o ofício do poeta, parece-me que foi
Cesare Pavese que o disse, e ofício rigoroso, acrescento eu. As palavras são a
nossa condenação. Com as palavras se ama, com as palavras se odeia. E, suprema
irrisão, ama-se e odeia-se com as mesmas palavras! Como Jano, são bifrontes:
nelas se caminha na noite, nelas se caminha no dia. Quanto a mim, gosto das
palavras que sabem a terra, a água, aos frutos de fogo do verão, aos barcos no
vento; gosto das palavras lisas como seixos, rugosas como pão de centeio.
Palavras que cheiram a feno e a poeira, a barro e a limão, a resina e ao sol.
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