domingo, 28 de junho de 2015

SARAMAGUEANDO


Na Cronobiografia de José Saramago, preparada por Fernando Gómez Aguilera, pode ler-se:

1970

Começa a viver com a escritora Isabel da Nóbrega, relação que durará até 1986.


No índice Onomástico da Correspondência trocada entre José Rodrigues Miguéis e José Saramago, há três entradas para Isabel da Nóbrega.

Em nenhuma delas o seu nome aparece, mas poderá concluir-se que se o pormenor é citado no Índice motivos existirão, e a isso não será alheio o desejo do autor que assim fosse.

Vejamos:

Desculpe esta secura. Esta carta, embora pequena, foi interrompida várias vezes por questões tão comezinhas que até fazem raiva.

(Carta datada de 31 de Julho de 1961)

Leu já a «crítica» que o Gaspar Simões fez ao seu livro (A Escola)? Tardou mas arrecadou, benza-o Deus! Por que bulas é aquele homem crítico literário, e influente, é que eu não entendo. Ou o homem é estúpido, ou não sabe ler. Ou será as duas coisas? Duma coisa estou eu certo: é da maldade dele. Porque se aquilo não é maldade, então só vejo outra saída: senilidade, que, como todos sabemos, às vezes refina na velhacaria.

(Carta datada de 4 de Novembro de 1961)

Uma carta minha, depois de todo este tempo de silêncio, deve causar-lhe uma impressão de revenant. Em certo sentido, essa impressão é justificada, poi tanta coisa se passou na minha vida, nestes últimos meses, que eu próprio chego a pensar se não terei morrido mesmo – e ressuscitado. Não estive doente, pelo menos no sentido usual da palavra, não tive médico à cabeceira nem termómetro ao canto da boca, mas estive prestes a destruir toda a minha futura, sabe-se lá de que maneira e com que consequências. Para abreviar: saí de casa, deixei a família, atrás de uma miragem em figura de mulher – que são sempre as piores miragens. Felizmente que o bom-senso e a descoberta de que a razão verdadeira da minha vida estava, afinal, naquilo que estaticamente deixara. Tudo se recompôs, é certo, mas depois de tanto sofrimento (sofrido e infligido) que ainda me espanta agora como estou são de espírito.
Com tal situação, que se arrastou durante meses, não prejudiquei apenas a minha vida particular e a dos meus. Os meus deveres na editora foram um pouco esquecidos, e devo à amizade e compreensão dos nossos amigos Canhão e Correia o não estar agora numa situação difícil.

(Carta datada de 19 de Setembro de 1962)

Sem comentários: