20 de Junho de
1975
JÁ PASSARAM uns
dias, foi a 15, que Otelo Saraiva de Carvalho, citado por O Primeiro de Janeiro,
explosivamente afirmou. oxalá que, realmente, não tenhamos que um dia encher
a arena do Campo Pequeno com muitos contra-revolucionários, antes que os
contra-revoluciojnários nos metam a nós no Campo Pequeno.
Em entrevista à
Rádio Renascença, já dissera: eu, às vezes, chego a apensar que a nossa
inexperiência revolucionária, enfim, teria sido melhor se, em 25 de Abril de
1974 encostássemos à parede ou mandássemos para o Campo Pequeno umas centenas
ou uns milhares de contra-revolucionários, eliminando-os à nascença. Tenho a
impressão de que neste momento a contra-revolução já não existia, pelo menos,
por medo. Nós sfazer uma revolução humanista, uma revolução de cravos, uma
revolução muito bonita, e estamos agora com um esforço tremendo para a
conseguir levar a cabo,
O REPÚBLICA É
REABERTO. A admistracção, o director e os redactores pró-Raul Rego, não chegam
acordo com os restantes trabalhadores, no tocante à publicação do jornal, e
abandonam as instalações.
O «Caso República” está num beco sem saída e pode
levar a uma crise muito grave,
disse Mário à rádio francesa Europe 1.
Os jornalistas
distribuem um comunicado:
PRÓ E CONTRA
manifestantes, por causa do caso Rádio Renascença, envolveram-se em confrontos
frente ao Patriarcado.
Viveram-se momentos de forte tensão e houve a
necessidade da intervenção das Forças Armadas.
Sottomayor
Cardia, em nome do Partido Socialista, solidarizou-se com a Igreja Católica e o
seu direito de utilizar os meios de comunicação social. A demagogia
irresponsável e anticlerical movida a respeito do caso Renascença apenas pode
favorecer a contra-revolução e o fascismo.
Por seu lado,
também em comunicado, o Partido Comunista diz que a luta que os
trabalhadores da Rádio Renascença têm conduzido por algumas justas
reivindicações profissionais não têm encontrado por parte da hierarquia da
Igreja qualquer perspectiva de solução - é uma luta que se tem prolongado e ultimamente
agudizado.
As reivindicações profissionais defendidas não devem
ser confundidas com qualquer questão religiosa mas existem forças que se
mostram interessadas em criar e alimentar tal confusão.
O EPISCOPADO
português, tão silencioso e conivente com a ditadura, em nota pastoral,
intromete-se, negativamente, na situação política.
Do Apontamento
de José Saramago no Diário de Notícias:
Se os bispos portugueses, defendessem a Revolução,
portugueses seriam, mas não bispos. Teriam inventado, se tal milagre se desse,
uma nova maneira de ser bispo, mais preocupada com a liquidação das misérias do
mundo em geral e dos povos (deste povo) em particular, do que com a defesa já
mal disfarçada de um fixismo social e económico que certas encíclicas pareceram
combater e, afinal, reforçou na prática.
MIGUEL TORGA no
seu Diário:
Estranha revolução esta, que desilude e humilha quem
sempre ardentemente a desejou. A mais imunda vasa humana a vir à tona, as
invejas mais sórdidas vingadas, o lugar imerecido e cobiçado tomado de assalto,
a retórica balofa a fazer de inteligência. Mas teimo em crer que apesar de tudo
valeu a pena assistir ao descalabro. Pelo menos não morro iludido, como os que
partiram nas vésperas do terramoto. Cuidavam que combatiam pelo futuro e, na
verdade, assim acontecia, mas apenas na medida em que o sonhavam como se ele
tivesse de ser coerente com a dignidade do seu passado de lutadores. O trágico
é que um futuro sonhado não passa de uma ficção. O tempo é o lugar do inédito.
O futuro autêntico é sempre misteriosos e autónomo das premissas de que partiu.
Quando chega, traz os seus valores, as suas leis, a sua gente, nem boa nem má.
Traz os títeres que lhe convêm. Ou pior: os títeres a quem a hora convém.
Fontes:
- Acervo
pessoal;
- Os Dias
Loucos do PREC de Adelino Gomes e José Pedro Castanheira.
- Diário de
Miguel Torga
-Os Apontamentos
de José Saramago
Legenda:
confrontos em frente do Patriarcado. Fotografia tirada de - Os Dias
Loucos do PREC.
Sem comentários:
Enviar um comentário