sexta-feira, 26 de junho de 2015

ISABEL DA NÓBREGA


Isabel da Nóbrega, escritora e jornalista, faz hoje 90 anos.

O seu livro mais conhecido, Viver com os Outros, venceu o Prémio Camilo Castelo Branco, na altura a consagração maior do romance nacional.

A acção do romance, um possível retrato da geração de 50, acontece numa única noite de Junho, no decorrer de um jantar em casa de um casal da alta burguesia de Lisboa.

Alexandre Pinheiro Torres:

Pela transcrição da conversa, consegue Isabel da Nóbrega iluminar-nos maravilhosamente o mundo interior das personagens, o porquê e o como delas, os motivos que são o forro das suas opiniões, o recorte interno e externo da forma por que agem.

Trata-se de um livro de relevante e inegável interesse das nuances da conversação, por intermédio da qual se faz a análise de um meio, se estabelecem os seus valores dominantes e se revela com uma argúcia às vezes estonteante a psicologia de cada personagem.

Eduardo Prado Coelho:

A autora soube admiravelmente propor uma constelação de valores que se iluminam através dum diálogo: por entre a sua desordem e dispersão o diálogo consegue ir tecendo aquele sentido totalizador que é a pedra de toque de toda a obra de arte. Tão convincente e fascinante que o leitor é forçado a considerar natural e certa a espontaneidade atrevida de certas técnicas da obra. E isso nos faz observar que essa espontaneidade é simultaneamente um dos elementos da afinadíssima engrenagem do romance e um dos seus pontos de chegada.

No jantar que assinalou a atribuição do Prémio Camilo Castelo Branco, coube a Mário Dionísio fazer o discurso de saudação.

Li esse discurso num suplemento literário, salvo erro do Diário de Lisboa, andei à procura do recorte e não o encontrei, discurso que terminava com Mário Dionísio a citar as palavras finais de Viver Com os Outros:

Era a porta da varanda. Abri-a de para em par. A fresca noite entrou. É noite. É Junho, amor, e estamos vivos. E não estamos sozinhos. Oh, esta alegria de não estarmos sós.

Gostei do discurso de Mário Dionísio, a excelência do seu olhar crítico, poético e gostei das palavras que do livro ele transcreveu e que me levaram a adquiri-lo, já em 2ª edição, na Clássica Editora, uma livraria que existia ao lado do antigo Cinema Eden.

Podem comprar-se livros pela beleza das capas, pelos começos, por finais, pelo que quer que seja.

Um longo, e injusto silêncio caiu sobre  a obra de Isabel da Nóbrega.

No fundo o que eu gostava é que os escritores fossem tão conhecidos como os jogadores e treinadores de futebol, que tivessem mais audiência que os analfabetos.

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