Isabel da
Nóbrega, escritora e jornalista, faz hoje 90 anos.
O seu livro mais
conhecido, Viver com os Outros, venceu o Prémio Camilo Castelo Branco, na
altura a consagração maior do romance nacional.
A acção do
romance, um possível retrato da geração de 50, acontece numa única noite de
Junho, no decorrer de um jantar em casa de um casal da alta burguesia de
Lisboa.
Alexandre
Pinheiro Torres:
Pela transcrição da conversa, consegue Isabel da
Nóbrega iluminar-nos maravilhosamente o mundo interior das personagens, o
porquê e o como delas, os motivos que são o forro das suas opiniões, o recorte
interno e externo da forma por que agem.
Trata-se de um livro de relevante e inegável interesse
das nuances da conversação, por intermédio da qual se faz a análise de um meio,
se estabelecem os seus valores dominantes e se revela com uma argúcia às vezes
estonteante a psicologia de cada personagem.
Eduardo Prado
Coelho:
A autora soube admiravelmente propor uma constelação
de valores que se iluminam através dum diálogo: por entre a sua desordem e
dispersão o diálogo consegue ir tecendo aquele sentido totalizador que é a
pedra de toque de toda a obra de arte. Tão convincente e fascinante que o
leitor é forçado a considerar natural e certa a espontaneidade atrevida de certas
técnicas da obra. E isso nos faz observar que essa espontaneidade é
simultaneamente um dos elementos da afinadíssima engrenagem do romance e um dos
seus pontos de chegada.
No jantar que
assinalou a atribuição do Prémio Camilo Castelo Branco, coube a Mário Dionísio
fazer o discurso de saudação.
Li esse discurso
num suplemento literário, salvo erro do Diário de Lisboa, andei à
procura do recorte e não o encontrei, discurso que terminava com Mário Dionísio
a citar as palavras finais de Viver Com os Outros:
Era a porta da varanda. Abri-a de para em par. A
fresca noite entrou. É noite. É Junho, amor, e estamos vivos. E não estamos
sozinhos. Oh, esta alegria de não estarmos sós.
Gostei do
discurso de Mário Dionísio, a excelência do seu olhar crítico, poético e gostei
das palavras que do livro ele transcreveu e que me levaram a adquiri-lo, já em
2ª edição, na Clássica Editora, uma livraria que existia ao lado do
antigo Cinema Eden.
Podem comprar-se
livros pela beleza das capas, pelos começos, por finais, pelo que quer que
seja.
Um longo, e
injusto silêncio caiu sobre a obra de
Isabel da Nóbrega.
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