Karin no final
de Stromboli, a história de uma pecadora tocada pela graça, no dizer de Eric
Rohmer:
Deus! Oh! Meu
Deus! Ajuda-me! Dá-me força, a compreensão e a coragem.
Este é o
primeiro de seis filmes que Rossellini fez com Ingrid Bergman.
Uma mulher sofreu a experiência da guerra; sai dela
martirizada e endurecida, sem saber mais o que é um sentimento humano. O
importante era saber se esta mulher ainda pode chorar, e o filme acaba por aí:
quando caem as primeiras lágrimas.
Sobre Ingrid,
João Bénard da Costa escreveu:
Por ela, os vulcões deitaram lavas.
E no tempo da
sua morte:
A 29 de Agosto de 1982 – no dia em que fazia 67 anos –
morreu com um cancro. Aí, o ciclo fechou-se sobre esta doce e dupla mulher que,
em luz e sombra, acendeu os mais obscuros fantasmas dos nossos desejos. E julgo
que posso falar não só em nome da minha vida, como em nome da vida de todos
quantos – nascidos entre 1925 e 1945 – pegaram na mão dela para percorrer o
mais proibido e apetecido dos quantos obscuros.
Conta-se que fez
o filme sem ter um guião e apenas um bloco-notas com algumas ideias. Aconteceu
um dos mais extraordinários filmes da história do cinema.
Robert Altman também era avesso a guiões.
Quando lhe perguntaram para que é que serve um guião ele respondeu: para
saber se há cavalos ou não.
Em Novembro de
1973 a Fundação Calouste Gulbenkian organizou uma retrospectiva da obra de
Roberto Rossellini. A ditadura marcelista estava já no seu estertor e o
acontecimento faz parte da memória de cinéfilos e dos que estvam contra a
ditadura. O ciclo começou no Grande Auditório, às 21,30 Horas com Roma
Cidade Aberta.
Diz, quem por lá
esteve, que foi das manifestações mais extraordinárias que por aquele tempo
aqui aconteceram.
Estou neste momento a olhar para a página de
publicidade paga da retrospectiva, publicada em O Cinéfilo de 15 de
Novembro de 1973 o onde se pode ler, para além dos filmes a exibir, indicações
como programas sujeitos a alteração, o calendário da bilheteira: assinantes
dia 13, Início da venda avulso dia 15, assinaturas para os 27 espectáculos
200$00, bilhetes para cada espectáculo 10$00 e ainda a classificação dos
espectáculos: Grupo D (Maiores de 18 anos).
No mesmo número
de “O Cinéfilo” pode ler-se: Grande número de filmes vão ser vistos, no
Auditório 2 por 300 e tal privilegiados, convidados ou assinantes. À porta da
Gulbenkian ficam os outros.
Nos filmes de
Rossellini feitos com Ingrid Bergman é possível ver o quanto eles são
verdadeiros actos de amor de um pelo outro.
Mais tarde, já
não foi tanto assim.
Foi depois de
ter visto dois filmes de Rossellini, que Ingrid se determinou que tinha de
fazer um filme com o realizador, e escreveu-lhe oferecendo-se de corpo e alma:
Caro Senhor Rossellini,
Vi os seus filmes «Roma Cidade Aberta» e «Libertação» de
que gostei muito. Se precisar de uma actriz sueca que fala muito bem inglês,
que não esqueceu a língua alemã, que não é muito fluente em francês e que, em
italiano, só sabe dizer «Ti amo», estou pronta a fazer um filme consigo.
Com os melhores cumprimentos,
Ingrid Bergman
Rossellini nunca
tinha ouvido falar de Ingrid Bergman mas escreveu-lhe a dizer que quando
entendesse poderia aparecer por Itália.
Logo que ficou
livre dos compromissos que tinha entre mãos voou para Itália e apalavraram
fazer um filme em tempo oportuno.
Na altura
Roberto Rossellini vivia com Anna Magnani.
Conta a lenda
que Ana Magnani quando soube que o próximo filme de Rossellini não constava do
elenco, perguntou como era.
Estavam num restaurante e Rossellini começou a
entaramelar a língua.
Anna Magnani não pensou duas vezes e
espetou-lhe com uma travessa de esparguete na cara.
Ingrid Bergmann deixa
um marido e uma filha.
Com Rossellini
fará seis filmes, têm três filhos e separam-se em 1956.
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