quinta-feira, 18 de junho de 2015

SARAMAGUEANDO


O dia que sempre chega.

Cinco anos sem José Saramago.

Mas tão só a presença física porque tudo o resto continua a nosso lado:
as palavras, os livros, o saber, a atitude de homem e escritor, a coerência.

Podemos ler em A Caverna:

Felizmente, existem os livros. Podemos esquecê-los numa prateleira ou num baú, deixá-los ao pó e às traças, abandoná-los na escuridão das caves, podemos não lhes pôr os olhos em cima nem tocar-lhes durante anos e anos, mas eles não se importam, esperam tranquilamente, fechados sobre si mesmos para que nada do que têm dentro se perca, o momento que sempre chega, aquele dia em que nos perguntamos, Onde estará aquele livro?

Escreveu ainda: o que ficará por saber é infinito e, em off, no documentário José e Pilar de Miguel Gonçalves Mendes, diz: perda irreparável: o acabar de cada dia. Provavelmente é isto a velhice.

Morte.

 A diferença entre haver estado e já não estar. Espero morrer lúcido e de olhos abertos.


A epígrafe que escolheu para A Viagem do Elefante foi «Sempre chegamos ao sítio onde nos esperam». É isso que sente?

Saramago responde:

É e todos nós. Chama-se morte. O sítio chama-se morte. Queiramos ou não queiramos, sempre acabamos por chegar aí.

Nunca aprendemos tudo sobre despedidas.


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