3 de Dezembro de 1975
As acções terroristas
foram o marco negro e trágico, um mar de ódio e violência que varreram todo o
Verão Quente.
Nessa escalada
de terrorismo estiveram envolvidos militares da ditadura, mercenários, um vasto
de pessoasa não classificáveis, figuras da Igreja, com especial realce para
essa sinistra figura que dá pelo nome de Cónego Melo.
Sempre que no
norte se organizaram manifestações e concentrações de apoio à Igreja, resultaram
posteriores ataques a centros de trabalho de partidos de esquerda e
organizações sindicais.
O verbalismo de
sacristia dos senhores bispos atingiu as raias do patético e inadmissíveis numa
sociedade que se pretende democrata.
Eduardo Lourenço
num artigo publicado no Jornal Novo de 16 de Agosto de 1975, e incluído
no seu livro O Fascismo Nunca Existiu, aborda palavras incendiadas de D,
Francisco Maria da Silva, Arcebispo de Braga que contrariavam o espírito da
Comissão Promotora de apoio ao Arcebispo: A manifestação realizar-se-á no
próximo dia 10 (Agosto de 1975) como está previsto, com espírito de amor
e reconciliação, sem distúrbios provocados pelos cristãos.
Aconteceu tudo
menos amor e reconciliação.
Escreve Eduardo
Lourenço:
Sua Exª Verª limitou-se a esperar os tropeções, as monumentais e esperadas escorregadelas da
Revolução. Sua Exª Rerª, como os bispos de antanho, bem escorado na sua pessoal
e anacroníssima Torre de Barbela, esperou a hora propícia, o sinal que o repusesse
no único papel que lhe convém e sabe de cor: o de arauto da
contra-revolução.
Exª Rerª: o País não é a «Ulisseia desvairada», Braga
não é o país.. Tenhamos mesmo esperança de que Braga não seja o seu Arcebispo.
Ainda há na terra portuguesa gente que se lembra como D. João II tratava os
ilustres bispos que se metiam a «políticos» w pisavam o risco que separa a política
dos homens daquela que Quevedo chamava «la política de Dios». O destino de
Portugal, o futuro da Revolução Portuguesa, são demasiado preciosos para
dependerem de um bispo reacionário. A escolha deste País não é entre V. Exª e
Álvaro Cunhal. E se fosse, só num sentido seria realmente uma escolha.
Felizmente, Portugal já escolheu a 25 de Abril e a 1 de maio de 1974. Contra V.
Exª Verª e tudo quanto o pouco glorioso nome do sucessor de Bartolomeu dos
Mártires, bispo popular e do povo português, representa.
Os números do
terrorismo que acima se colocam constam de um Dossier publicado em Junho de
1977.
Fontes:
- Acervo
pessoal.
- O Fascismo Nunca Existiu de Eduardo Lourenço, Publicações Dom Quixote, Lisboa, Junho
de 1976
- Dossier
Terrorismo, Edições Avante, Lisboa, Junho de 1977
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