quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

OS IDOS DE DEZEMBRO DE 1975


3 de Dezembro de 1975

As acções terroristas foram o marco negro e trágico, um mar de ódio e violência que varreram todo o Verão Quente.

Nessa escalada de terrorismo estiveram envolvidos militares da ditadura, mercenários, um vasto de pessoasa não classificáveis, figuras da Igreja, com especial realce para essa sinistra figura que dá pelo nome de Cónego Melo.

Sempre que no norte se organizaram manifestações e concentrações de apoio à Igreja, resultaram posteriores ataques a centros de trabalho de partidos de esquerda e organizações sindicais.

O verbalismo de sacristia dos senhores bispos atingiu as raias do patético e inadmissíveis numa sociedade que se pretende democrata.

Eduardo Lourenço num artigo publicado no Jornal Novo de 16 de Agosto de 1975, e incluído no seu livro O Fascismo Nunca Existiu, aborda palavras incendiadas de D, Francisco Maria da Silva, Arcebispo de Braga que contrariavam o espírito da Comissão Promotora de apoio ao Arcebispo: A manifestação realizar-se-á no próximo dia 10 (Agosto de 1975) como está previsto, com espírito de amor e reconciliação, sem distúrbios provocados pelos cristãos.

Aconteceu tudo menos amor e reconciliação.

Escreve Eduardo Lourenço:

Sua Exª Verª limitou-se a esperar os tropeções, as monumentais e esperadas escorregadelas da Revolução. Sua Exª Rerª, como os bispos de antanho, bem escorado na sua pessoal e anacroníssima Torre de Barbela, esperou a hora propícia, o sinal que o repusesse no único papel que lhe convém e sabe de cor: o de arauto da contra-revolução.
Exª Rerª: o País não é a «Ulisseia desvairada», Braga não é o país.. Tenhamos mesmo esperança de que Braga não seja o seu Arcebispo. Ainda há na terra portuguesa gente que se lembra como D. João II tratava os ilustres bispos que se metiam a «políticos» w pisavam o risco que separa a política dos homens daquela que Quevedo chamava «la política de Dios». O destino de Portugal, o futuro da Revolução Portuguesa, são demasiado preciosos para dependerem de um bispo reacionário. A escolha deste País não é entre V. Exª e Álvaro Cunhal. E se fosse, só num sentido seria realmente uma escolha. Felizmente, Portugal já escolheu a 25 de Abril e a 1 de maio de 1974. Contra V. Exª Verª e tudo quanto o pouco glorioso nome do sucessor de Bartolomeu dos Mártires, bispo popular e do povo português, representa.

Os números do terrorismo que acima se colocam constam de um Dossier publicado em Junho de 1977.

Fontes:
- Acervo pessoal.
-  O Fascismo Nunca Existiu de Eduardo Lourenço, Publicações Dom Quixote, Lisboa, Junho de 1976
- Dossier Terrorismo, Edições Avante, Lisboa, Junho de 1977

Sem comentários: