sexta-feira, 18 de março de 2016

AS CAMÉLIAS FLORESCEM NO INVERNO


Tenho malas espalhadas pelas minhas diversas
idades, nem grandes, nem pequenas, assim
assim, prontas para partir, com o necessário para
sobreviver até à próxima idade; preciso destas
inutilidades à minha volta, não de diários que não sei
escrever, mas de malas cheias de quase nada: tantas
idades que já tive, malas em cada uma delas, um dia
deixo de ter idades: que mal tem? começo a desfazer
as malas sem ninguém dar conta; as camélias
florescem no inverno, dói-lhe o frio e florescem,
são elas que nos lembram que há árvores
no inverno; um dia deixo de ter idades, acocorado
ao pé das camélias, o inverno a doer nas árvores,
e em mim

Nuno Higino, poema colocado por Nicolau Santos na sua coluna Cem por Cento do Expresso de 22 de Janeiro de 2106.

Legenda: não foi possível identificar o autor/origem da fotografia.

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