Jesus morre, morre, e já o vai deixando a vida, quando
de súbito o céu por cima da sua cabeça se abre de para em par e Deus aparece,
vestido como estivera na barca, e a sua voz ressoa por toda a terra, dizendo,
Tu és o meu Filho muito amado, em ti pus toda a minha complacência. Então Jesus
compreendeu que viera trazido ao engano como se leva o cordeiro ao sacrifício,
que a sua vida fora traçada para morrer assim desde o princípio dos princípios,
e, subindo-lhe à lembrança o rio de sangue e sofrimento que do seu lado irá
nascer e alagar toda a terra, clamou para o céu aberto onde Deus sorria, Homens
perdoai-lhe, porque ele não sabe o que fez. Depois, foi morrendo no meio de um
sonho, estava em Nazaré e ouvia o pai dizer-lhe, encolhendo os ombros e
sorrindo também, Nem eu posso fazer-te todas as perguntas, nem tu podes dar-me
todas as respostas. Ainda havia nele um resto de vida quando sentiu que uma
esponja embebida em água e vinagre lhe roçava os lábios, e então, olhando para
baixo, deu por um homem que se afastava com um balde e uma cana ao ombro. Já
não chegou a ver, posta no chão, a tigela negra para onde o seu sangue
gotejava.
Sem comentários:
Enviar um comentário