Fala-se interminavelmente de cultura, mas não se vive
a cultura. Comemoram-se os escritores que morrem, mas nada se faz para garantir
a actividade dos vivos. Se um escritor, por desespero, deixou de escrever,
ninguém lhe vai perguntar: «De que precisas para trabalhar?» Dão-se palmas
benévolas aos escritores que envelhecem, mas condenam-se ao silêncio os
escritores que nascem. Afirma-se que a cultura é uma e nacional, mas impede-se,
ou dificulta-se, ou menospreza-se a sua divulgação nos meios de comunicação social.
Apregoa-se o pluralismo, fomenta-se a letra única. Teoriza-se o consenso,
pratica-se a excomunhão.
José Saramago, do
discurso por ocasião do recebimento do Prémio Cidade de Lisboa, por Levantado
do Chão, 1 de Junho de 1982.
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