Viver Todos os Dias Cansa
Pedro Paixão
Cotovia, Lisboa
Julho de 1995
Sei pouco sobre as mulheres e cada vez sei menos. Nem
sei – ou quando sei já é tarde demais – se gostam de mim e, quando isso
acontece, não chego a saber o que isso possa querer dizer. Há muitas maneiras de
gostar, é verdade. Quando se gosta de um casaco é ele o que trazemos mais
vezes. Com as mulheres é diferente. O que importa, acho eu, não é nem o que
elas dizem nem o que elas fazem mas o que elas não dizem e pensam fazer. É
preciso adivinhar e eu sou muito mau a adivinhar. Depois, quando as coisas
acabam e olhamos para trás, não ficamos mais elucidados. Sabemos contar aos
amigos uma história que tem princípio meio e fim mas que podia ter sido outra.
Uma pessoa é um mistério, duas, com um abismo pelo meio, uma prodigiosa
contradição.
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