quinta-feira, 24 de março de 2016

AS VELADAS


As noites de velada. O morto, no primeiro andar, mais bem vestido que um noivo... Todos invejavam os fatos dos mortos porque eram novos e muito bem passados a ferro. No rés-do-chão a famí­lia, os amigos, os profissionais da morte, bebendo café com aguardente e falando em surdina. Uma grande vontade de rir sacudia por vezes as pessoas, e todos começavam a soluçar baixinho. Nem um grito. Respeito absoluto. Só na hora de sair o enterro é que os ais reprimidos começavam a enchar­car a cidade. Todos gritavam o mais que podiam. Já ninguém tinha medo de acordar o morto. Agora tinham a certeza que o caixão estava irremedia­velmente fechado.

Eduardo Valente da Fonseca em Os Criptogâmicos

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