As noites de velada. O morto, no primeiro andar, mais
bem vestido que um noivo... Todos invejavam os fatos dos mortos porque eram
novos e muito bem passados a ferro. No rés-do-chão a família, os amigos, os
profissionais da morte, bebendo café com aguardente e falando em surdina. Uma
grande vontade de rir sacudia por vezes as pessoas, e todos começavam a soluçar
baixinho. Nem um grito. Respeito absoluto. Só na hora de sair o enterro é que os
ais reprimidos começavam a encharcar a cidade. Todos gritavam o mais que
podiam. Já ninguém tinha medo de acordar o morto. Agora tinham a certeza que o
caixão estava irremediavelmente fechado.
Eduardo Valente
da Fonseca em Os Criptogâmicos
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