Ensaio Sobre A Cegueira
José
Saramago
Prefácio:
Zeferino Coelho
Capa: Rui
Garrido
Colecção
Essencial nº 1
Leya/RTP,
Lisboa, Abril de 2016
Tal como os livros anteriores de Saramago, O
Ensaio Sobre a Cegueira teve um enorme
êxito junto dos leitores (mesmo daqueles que se recusavam a lê-lo ou que
abandonavam a leitura por medo de enfrentar aquela terrível realidade, que,
todavia, é mera invenção) E no ano seguinte começavam a sair traduções um pouco
por toda a parte, sempre com grande aplauso da crítica. Recordo-me que nos
Estados Unidos da América o livro saiu no verão de 1998 e todos os grandes
jornais e revistas o referiam de forma muito positiva, e algumas vezes
entusiásticas. Em setembro comecei a receber na editora as recensões americanas
(1).
E foi uma delas, publicada pelos Los
Angeles Times, que me deu o que me
faltava para compreender o livro. O crítico classificava-o como “um romance
sinfónico”. E é isso que, quanto a mim, o livro é no que se refere à sua
estrutura romanesca. Um conjunto de solistas – aquelas personagens sem nome,
identificadas apenas por uma característica particular da sua vida (o médico, a
mulher do médico, a rapariga dos óculos escuros, o ladrão, o primeiro cego, a
mulher do primeiro cego, o rapazinho estrábico, o velho da venda preta, isto
sem esquecer aquele que é talvez o mais eloquente de todos eles, o cão das
lágrimas (2) – solistas movimentando-se sobre um grandiosos pano de fundo – que
está ali como se fosse uma orquestra. E o romance está construído de tal modo
que nem a orquestra, a multidão infindável de cegos, se sobrepõe aos solistas
abafando-lhes a voz, nem os solistas se sobrepõem à orquestra, fazendo-nos
esquecer a força do pano de fundo dentro do qual vivem o seu drama.
(1) Ainda
hoje estou convencido de que foram estas recensões que acabaram por convencer
os membros da Academia Sueca a atribuírem-lhe o Prémio Nobel da Literatura.
(2) Ouvi
várias vezes o autor dizer que não se importaria de vir um dia a ser conhecido
como o criador desta personagem, o cão das lágrimas.
(Do Prefácio de Zeferino Coelho)
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