1984
George
Orwell
Tradução: L.
Morais
Capa: Câmara
Pereira
Círculo de
Leitores, Lisboa, Maio de 1984
A escapada com aquela mulher fora a primeira
em dois anos ou mais. Andar com prostitutas era proibido, naturalmente, mas era
uma dessas regras que às vezes os militantes tinham a coragem de quebrar. Ser
apanhado com uma prostituta poderia significar cinco anos com campo de
trabalhos forçados; apenas isso, se não houvesse outra infracção. E era fácil,
contanto que se evitasse ser surpreendido no acto. Os bairros pobres pululavam
de mulheres prontas a entregarem-se. Algumas podiam até ser pagas com uma garrafa
de gin, que os proles não tinham
direito de beber. Tacitamente o Partido inclinava-se até a estimular a
prostituição, para dar a fuga a instintos que não podiam ser totalmente
suprimidos. Mera luxúria, não tinha grande importância, contando que fosse
praticada às escondidas e sem alegrai e só envolvesse mulheres de uma classe
desprezada. O crime imperdoável era a promiscuidade entre membros do Partido.
Mas – embora este crime fosse invariavelmente confessado pelos acusados nas
depurações – era difícil imaginar que realmente fosse praticado.
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