sexta-feira, 22 de abril de 2016

OLHAR AS CAPAS


1984

George Orwell
Tradução: L. Morais
Capa: Câmara Pereira
Círculo de Leitores, Lisboa, Maio de 1984

A escapada com aquela mulher fora a primeira em dois anos ou mais. Andar com prostitutas era proibido, naturalmente, mas era uma dessas regras que às vezes os militantes tinham a coragem de quebrar. Ser apanhado com uma prostituta poderia significar cinco anos com campo de trabalhos forçados; apenas isso, se não houvesse outra infracção. E era fácil, contanto que se evitasse ser surpreendido no acto. Os bairros pobres pululavam de mulheres prontas a entregarem-se. Algumas podiam até ser pagas com uma garrafa de gin, que os proles não tinham direito de beber. Tacitamente o Partido inclinava-se até a estimular a prostituição, para dar a fuga a instintos que não podiam ser totalmente suprimidos. Mera luxúria, não tinha grande importância, contando que fosse praticada às escondidas e sem alegrai e só envolvesse mulheres de uma classe desprezada. O crime imperdoável era a promiscuidade entre membros do Partido. Mas – embora este crime fosse invariavelmente confessado pelos acusados nas depurações – era difícil imaginar que realmente fosse praticado.  

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