terça-feira, 26 de abril de 2016

GENTE QUE FAZ PENSAR


Encontrei no Baú este número da Flama de 28 de Agosto de 1964.

Guardada por causa do artigo sobre os Beatles.

Lidos hoje, artigo e depoimentos, dão vontade de rir.

O artigo não foge daquela velha ideia encontrada, então, para denegrir os rapazes de Liverpool: cabelos compridos, ideias curtas.



Um exemplo da prosa:

Liverpool, como as grandes cidades industriais de Inglaterra, é escura, violenta, taciturna. Pequeno império da delinquência juvenil, com os seus «rocks» e os seus «mods», é um verdadeiro problema para a tradicional austeridade britânica.


Mais um exemplo:

Este género de acontecimentos deve mais para além do umbral da nossa racionalidade adulta, porque a verdade é que não compreendemos o que se passa com esses rapazes e raparigas tão excitados! Muito boa gente considera os «Beatles» uma invasão de perversidade e decadência exportada pelo velho mundo: uma ameaça para a tranquila adolescência que cultiva o respeito e a dedicação; um convite de ascensão à alta delinquência juvenil».


Em complemento ao artigo, publicavam-se alguns depoimentos.

Escolhi quatro e acho o da então estudante liceal Maria Beatriz, uma delícia: ao conjunto português de Gonçalo Lucena faltou uma afinada máquina publicitária. 


Mas quem era o Gonçalo Lucena?

Tudo isto é prosa rançosa, mas era o que havia.

O espantos dos espantos é que os Beatles, apesar destas tristes letras e opiniões, outras terão existido, conseguiram romper as trevas portuguesas e tornaram-se no fenómeno que tantas alegrias deu.

Já que de Beatles falei, tempo de deixar escrito que nunca me recompus com a separação daqueles rapazes.

Ficou sempre a faltar qualquer coisa...

Sem comentários: