Não sei se os astros mandam neste mundo,
Nem se as cartas —
As de jogar ou as do Tarot —
Podem revelar qualquer coisa.
Não sei se deitando dados
Se chega a qualquer conclusão.
Mas também não sei
Se vivendo como o comum dos homens
Se atinge qualquer coisa.
Sim, não sei
Se hei-de acreditar neste sol de todos os
dias,
Cuja autenticidade ninguém me garante.
Ou se não será melhor, por melhor ou por
mais cómodo,
Acreditar em qualquer outro sol —
Outro que ilumine até de noite. —
Qualquer profundidade luminosa das coisas
De que não percebo nada...
Por enquanto
(Vamos devagar)
Por enquanto
Tenho o corrimão da escada absolutamente
seguro.
Seguro com a mão —
O corrimão que me não pertence
E apoiado ao qual ascendo...
Sim... Ascendo
Ascendo até isto:
Não sei se os astros mandam neste mundo...
Richard
Zenith na Fotobiografia de Fernando Pessoa escreve:
Pessoa, de
certo modo, acreditava em tudo, mas sem ter fé em nada. Isso é, estava aberto a
tudo, absorvia tudo para depois fazer o seu próprio percurso.
Richard
Zenith diz que, com este poema, escrito a 5 de Janeiro de 1935, devemos estar atentos à atitude religiosa de
Pessoa.
Legenda: Fernando Pessoa nas notas de cem escudos, impressas nos anos 80.
Legenda: Fernando Pessoa nas notas de cem escudos, impressas nos anos 80.
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