Ele estava a ler-lhe Rilke, um poeta que
admirava, quando ela adormeceu com a cabeça no travesseiro dele. Gostava de ler
em voz alta e lia bem, numa voz confiante e sonora, ora baixa e grave, ora
retumbante, ora excitante. Enquanto lia nunca desviava os olhos da página e
apenas interrompia para estender o braço para a mesinha-de-cabeceira e pegar
num cigarro. Era uma voz que a transportava até um sonho povoado de caravanas
que iniciavam uma viagem a partir das cidades rodeadas de ameias, com homens
barbudos vestidos com túnicas. Tinha-o escutado durante alguns minutos, fechara
os olhos e adormecera.
Raymond
Carver em Queres Fazer o Favor de te Calares?
Legenda:
fotograma do filme Domicilio Conjugal
de François Truffaut
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