segunda-feira, 6 de junho de 2016

PORNOGRAFIAS


È uma das muitas modernices que, volta e meia, aparecem pelo pedaço.

Dizem: Oh patego! Olha o balão!...

E eles olham repletos de felicidade.

Na Rua Augusta, abriram um espaço e chamaram-lhe Casa Portuguesa do Pastel de Bacalhau.
Seria uma boa aposta se apenas tratassem de pastéis de bacalhau e outros petiscos.

Não.

Pegando em duas tradições de peso, o pastel de bacalhau e o queijo da serra, uniram-nas e saíu pastel de bacalhau recheado com queijo da serra.

Quando li, arrepiei-me.

Ná! Nessa não me apanham.

Acontece que o meu vizinho Pepe trouxe-nos uns exemplares para degustação.

Lá teve que ser.

Sem ponta por onde lhe pegar.

Um pastel enorme, com a capa demasiado lisa o que significa, de imediato, que tem mais batata do que bacalhau.

O sabor que mais ressalta é o do pastel, o queijo fica a escorrer pelos dedos, com todos os tiques de ser de «fábrica.»

Maria de Lurdes Modesto chamou-lhe uma obscenidade a roçar a pornografia.

Completamente de acordo.

Pornográfico é também o preço: 3,45 euros cada exemplar.

Os «chefs» andam a dar cabo da nossa cozinha tradicional.

Claro que há pategos-novo-riquismo que os acham a maravilha das maravilhas.

No fundo, gente que nunca soube o que é o sabor da cozinha das avós.

Isto das misturas, lembra-me sempre o Hugh Grant, no Notting Hill, a oferecer à Júlia Roberts a oferecer-lhe damascos embebidos em mel e, ao mesmo tempo diz-lhe:

Damascos embebidos em mel. Porquê, não sei, porque deixam de saber a damascos e ficam a saber a mel e se se quer mel compra-se mel em vez de damascos.

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