Quanto a mim, gosto das palavras que sabem a
terra, a água, aos frutos de fogo do verão, aos barcos no vento; gosto das
palavras lisas como seixos, rugosas como o pão de centeio. Palavras que cheiram
a feno e a poeira, a barro e a limão, a resina e a sol.
Foi com essas palavras que fiz os poemas.
Palavras rumorosas de sangue, colhidas no espaço luminosos da infância, quando
o tempo era cheio, redondo, cintilante. As palavras necessárias para conservar
ainda os olhos abertos ao mar, ao céu, às dunas, sem vergonha, como se os
merecesse, e a inocência pudesse de quando em quando habitar os meus dias. As
palavras são a nossa salvação.
Eugénio de
Andrade em Rosto Precário
Legenda: pintura de Mihai Criste
Sem comentários:
Enviar um comentário