quarta-feira, 7 de março de 2018

OLHAR AS CAPAS


O Tio Prodigioso

Fredric Brown
Tradução: Mário Quintana
Capa: Cândido Costa Pinto
Colecção Vampiro nº 56
Editora Livros do Brasil, Lisboa s/d

No meu sonho, eu estendia o braço através da montra de uma loja. Era a loja que fica em North Clark Street, a meia quadra da Grande Avenida. Estava quase a alcançar um trombone de prata. As outras coisas da vitrina estavam enevoadas e vagas.
O canto fez com que eu me voltasse, em vez de pegar no trombone de prata. Era a voz de Gardie.
Ela vinha cantando e saltando à corda, ao longo da calçada. Tal como costumava fazer antes de entrar para a escola secundária, no ano passado, e de se tornar um chamariz de rapazes, com os lábios pintados e rouge por toda a cara. Ainda não tinha quinze anos: três anos e meio mais nova do que eu. Agora, neste meu sonho, estava pintada como sempre, mas pulava à corda, também, e cantava como uma garota: um, dois, três – upa! – quatro, cinco, seis – upa! Sete, oito, nove – u…
Mas, no meio do sonho, eu ia despertando. É uma confusão quando se fica assim, com um pé lá e outro cá. O barulho do comboio passando no viaduto quase faz parte do sonho, alguém caminha lá fora, no corredor, e – depois de o comboio ter passado – há a campainha do despertador que se põe a tocar no chão, junto à cama, e o pequeno estalido extra que dá, quando a mola está quase a rebentar.
Fi-lo parar e estendi-me de nova na cama, mas de olhos abertos, porque não queria tornar a dormir. O sonho já se tinha ido embora. Eu desejava ter um trombone, pensei; foi por isso que sonhei, aquilo. Por que carga de água veio essa Gardie, despertar-me?

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