Esperávamos, ansiosos,
pela serenidade de Setembro mas acontecem-nos temperaturas agostonianas.
Resta-nos hoje um, breve, mergulho na segunda entrevista que o Crocodilo que Voa guardou de Luiz Pacheco,
publicada em O Inimigo de Abril de
1994 e teve a conduzi-la Baptista-Bastos: «Olhó
Pacheco! Sacana Libertino Escritor»:
Fala de outros
autores:
O Saramago. Gosto imenso do Saramago como pessoa, como camarada do
partido, e pelas suas capacidades de trabalho. Devo-lhe muitos favores e
finezas e atenções.
O Saramago é o grande vencedor do 25 de Novembro. Escrevia umas coisas
no Diário de Lisboa e no Diário
de Notícias, confundiu o Beckett com o
Ionesco, enfim, coisas a esquecer. E aquele Manual de Pintura e Caligrafia é uma chatice. Ele tem um romance que
escamoteia, Terra do Pecado, e eu não
sei porque é que ele não o republica, não o envergonha nada, aquele romance
datado, em comparação com outros da mesma época. Daqui a cinquenta anos, depois
da morte dele, vai haver um editor espertalhão que o publicará… Mas o Saramago
avançou com o Memorial do Convento, e
é o grande impacte. Mas temos de ter cuidado com o que dizemos.
Que significa essa
precaução?
É que há toda uma maquinaria editorial, E um tipo sabe que, se mete lá
a mão, levam-nos o braço e o corpo todo, se possível a alma e o resto… a
pilinha… Já antes do memorial, o Saramago tinha publicado Levantado do Chão, ao qual dediquei uns artigos no Diário
Popular, que me impressionou muito. E até as peças de teatro dele são coisas
muito giras. Que Farei com Este Livro?,
está muito acima do que por aí se faz. Republicou, mais tarde, na Caminho, a
sua poesia, um horror!, e ele bem sabe que é um horror. O Memorial é excepcional. O Ano da Morte de
Ricardo Reis é uma montagem bem feita. A
Jangada de Pedra não consegui ler aquilo
de fio a pavio. O Evangelho li duas
páginas e pensei. «Nunca li a Bíblia,
já não vou ler isto!» É muito comprido. Já não tenho tempo nem vista. Dei-o ao
meu filho.
E os outros? Já que
estamos numa espécie de listagem.
Gajos que considero fora da carroça: o Ferreira de Castro, o Fernando
Namora, o Lobo Antunes (que já não consigo ler, não leio mesmo), o Vergílio
Ferreira. Este é um grande escritor, lá isso é, e tem uns três livros muito bem
conseguidos, é um tipo de craveira mental, mas tem deixado escapar alguns
disparates indesculpáveis. E isso é muito triste num escritor como o Vergílio
Ferreira, que também não posso detestar.
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