domingo, 9 de setembro de 2018

ETECETERA


Na passada sexta-feira abriu, nos jardins do Palácio de Cristal, a Feira do Livro de Porto que fechará stands no dia 23 de Setembro.

Nas muitas iniciativas dos organizadores da feira, consta a atribuição da Tília  que este ano homenageia José Mário Branco, um dos maiores nomes da Música Portuguesa.

José Mário Branco junta-se, como recebedor da tília, a Mário Cláudio, Vasco Graça-Moura, Agustina Bessa-Luís, Sophia de Mello Breyner Andresen.

José Mário Branco editou recentemente um duplo álbum de inéditos, datados de 1967 a 1999, quebrando um silêncio de vários anos.


ZECA

À boleia de José Mário Branco cabe trazer o registo de um triste episódio em que se viu envolvido o nome de José Afonso.

A incontrolável vaidade pessoal de José Jorge Letria, músico e cantor menor e hoje presidente da Sociedade Portuguesa de Escritores, levou-o a declarar o compromisso de que os restos mortais de José Afonso deveriam ser transladados para o Panteão Nacional :

«É este o tributo e é esta homenagem que Portugal deve a quem como mais ninguém o soube cantar em nome dos valores da liberdade, da democracia, da cultura e da cidadania», lê-se no comunicado. Assumimdo a Sociedade Portuuesa de Autores assume publicamente o compromisso de lutar por este legítimo e inadiável ato de consagração que deverá coincidir com os 90 anos do nascimento [de José Afonso] e com os 45 anos do 25 de Abril.»

José Jorge Letra gosta de dizer que andou de braço dado com o Zeca mas, se verdade isso é, podemos dizer que não aprendeu NADA!

De imediato, os herdeiros de José Afonso, que ficaram surpreendidos com a proposta, rejeitaram a transladação dos restos mortais de José Afonso para o Panteão Nacional:

«José Afonso rejeitou em vida as condecorações oficiais que lhe haviam sido propostas. Foi, a seu pedido, enterrado em campa rasa e sem cerimónias oficiais, em total coerência com a sua vida e pensamento. Por isso, apesar da meritória intenção que inspira a proposta, é a sua vontade que deve ser respeitada.»

SLB


Sabe-se que o mundo do futebol é uma podridão generalizada.

Razão tinha o escritor Mário de Carvalho quando, há longo tempo, disse numa entrevista que «a maior alegria que me podiam dar era proibir a porcaria do joga da bola e meter na cadeia essa pardalada.»

José Pacheco Pereira no Público:

«O interessante e pouco surpreendente exercício de contenção de danos que sucessões de adeptos do Benfica, célebres, consagrados, eminentes juristas, e homens que só eles sabem quem são, fazem, com a cumplicidade activa da comunicação social reduzida a esta miséria, tem como objectivo dizer que, se houve ilegalidades, elas foram de um homem ou dois e não atingem o clube, nem essa coisa contraditória nos seus termos, chamada a “verdade desportiva”. Isto porque uma das sanções previstas, em absoluta teoria e em absoluta impossibilidade prática, inclui a proibição do clube jogar por uns meses e anos, ou ser despromovido para uma divisão inferior. A tese é que nenhum jogo foi ganho ou perdido, a célebre “verdade desportiva”, por causa de uma malfeitoria de espionagem ilegal ao sistema judicial e a várias bases de dados públicas, para obter informações sobre processos judiciais e dados sobre árbitros.
A questão é muito simples: na história da corrupção em Portugal há quatro componentes, três de cima, e uma de baixo. Completam-se como peças de um jogo, neste caso o jogo do nosso atávico atraso nacional. Nacional, português, nosso, que todos nós pagamos para alguns receberem. As três de cima são as dos grandes: a corrupção na política, nos negócios e no futebol, profundamente interligadas. A de baixo, é a pequena corrupção do dia a dia, que os portugueses praticam como quem respira e que, entre outras coisas, gera o pano de fundo para toda a corrupção, nem que seja pela fragilíssima condenação de ilegalidades quando são parecidas com as que os de baixo praticam. São tudo valentões contra a corrupção, no café e nas caixas de comentários e Facebooks, mas depois, como se vê no futebol, fecham os olhos tão forte que até dói.»

A FECHAR

«Lembrei-me de pedir a João Semedo que me contasse como tinha ido viver para o porto. Ele sorriu com a pergunta, deve ter coçado a cabeça no seu gesto típico e a resposta foi algo como: “o Partido precisava de gente no Porto” –m o Partido era então, o PCP – “e eu fui para o Porto”. Não havia na sua voz qualquer laivo de distanciamento em relação às razões dessa decisão, pelo contrário. João Semedo tornou-se profundamente um portuense e um homem que vivia a cidade do porto. Ter ido para o porto por militância partidária e cívica – uma coisa que hoje não se faz e quase ninguém imaginaria fazer – era provavelmente para ele a melhor razão para se ter tornado portuense».

Rui Tavares, artigo na morte de João Semedo, publicado no Público.

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