Na passada sexta-feira abriu, nos jardins do Palácio de
Cristal, a Feira do Livro de Porto que fechará stands no dia 23 de Setembro.
Nas muitas iniciativas dos organizadores da feira, consta
a atribuição da Tília que este ano
homenageia José Mário Branco, um dos maiores nomes da Música Portuguesa.
José Mário Branco junta-se, como recebedor da tília, a
Mário Cláudio, Vasco Graça-Moura, Agustina Bessa-Luís, Sophia de Mello Breyner
Andresen.
José Mário Branco editou recentemente um duplo álbum de
inéditos, datados de 1967 a 1999, quebrando um silêncio de vários anos.
ZECA
À boleia de José Mário Branco cabe trazer o registo de um
triste episódio em que se viu envolvido o nome de José Afonso.
A incontrolável vaidade pessoal de José Jorge Letria,
músico e cantor menor e hoje presidente da Sociedade Portuguesa de Escritores,
levou-o a declarar o compromisso de que os restos mortais de José Afonso deveriam ser transladados para o Panteão
Nacional :
«É este o tributo e é esta homenagem que Portugal deve a quem como mais
ninguém o soube cantar em nome dos valores da liberdade, da democracia, da
cultura e da cidadania», lê-se no comunicado. Assumimdo a Sociedade Portuuesa
de Autores assume publicamente o compromisso de lutar por este legítimo e
inadiável ato de consagração que deverá coincidir com os 90 anos do nascimento
[de José Afonso] e com os 45 anos do 25 de Abril.»
José Jorge Letra gosta de dizer que andou de braço dado
com o Zeca mas, se verdade isso é, podemos dizer que não aprendeu NADA!
De imediato, os herdeiros de José Afonso, que ficaram
surpreendidos com a proposta, rejeitaram a transladação dos restos mortais de
José Afonso para o Panteão Nacional:
«José Afonso
rejeitou em vida as condecorações oficiais que lhe haviam sido propostas. Foi,
a seu pedido, enterrado em campa rasa e sem cerimónias oficiais, em total
coerência com a sua vida e pensamento. Por isso, apesar da meritória
intenção que inspira a proposta, é a sua vontade que deve ser respeitada.»
SLB
Sabe-se que o mundo do futebol é uma podridão generalizada.
Razão tinha o escritor Mário de Carvalho quando, há longo
tempo, disse numa entrevista que «a maior
alegria que me podiam dar era proibir a porcaria do joga da bola e meter na
cadeia essa pardalada.»
José Pacheco Pereira no Público:
«O interessante e
pouco surpreendente exercício de contenção de danos que sucessões de adeptos do
Benfica, célebres, consagrados, eminentes juristas, e homens que só eles sabem
quem são, fazem, com a cumplicidade activa da comunicação social reduzida a
esta miséria, tem como objectivo dizer que, se houve ilegalidades, elas foram
de um homem ou dois e não atingem o clube, nem essa coisa contraditória nos
seus termos, chamada a “verdade desportiva”. Isto porque uma das sanções
previstas, em absoluta teoria e em absoluta impossibilidade prática, inclui a
proibição do clube jogar por uns meses e anos, ou ser despromovido para uma
divisão inferior. A tese é que nenhum jogo foi ganho ou perdido, a célebre
“verdade desportiva”, por causa de uma malfeitoria de espionagem ilegal ao
sistema judicial e a várias bases de dados públicas, para obter informações
sobre processos judiciais e dados sobre árbitros.
A questão é muito
simples: na história da corrupção em Portugal há quatro componentes, três de
cima, e uma de baixo. Completam-se como peças de um jogo, neste caso o jogo do
nosso atávico atraso nacional. Nacional, português, nosso, que todos nós
pagamos para alguns receberem. As três de cima são as dos grandes: a corrupção
na política, nos negócios e no futebol, profundamente interligadas. A de baixo,
é a pequena corrupção do dia a dia, que os portugueses praticam como quem
respira e que, entre outras coisas, gera o pano de fundo para toda a corrupção,
nem que seja pela fragilíssima condenação de ilegalidades quando são parecidas
com as que os de baixo praticam. São tudo valentões contra a corrupção, no café
e nas caixas de comentários e Facebooks, mas depois, como se vê no futebol,
fecham os olhos tão forte que até dói.»
A FECHAR
«Lembrei-me de pedir a João Semedo que me contasse como tinha ido viver
para o porto. Ele sorriu com a pergunta, deve ter coçado a cabeça no seu gesto
típico e a resposta foi algo como: “o Partido precisava de gente no Porto” –m o
Partido era então, o PCP – “e eu fui para o Porto”. Não havia na sua voz
qualquer laivo de distanciamento em relação às razões dessa decisão, pelo
contrário. João Semedo tornou-se profundamente um portuense e um homem que
vivia a cidade do porto. Ter ido para o porto por militância partidária e
cívica – uma coisa que hoje não se faz e quase ninguém imaginaria fazer – era
provavelmente para ele a melhor razão para se ter tornado portuense».
Rui Tavares, artigo na
morte de João Semedo, publicado no Público.
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