A 24 de Dezembro de
1973, António José Saraiva está em Paris a gozar 10 dias de férias da Universidade
holandesa onde colabora.
Neste dia escreve
carta a Óscar Lopes e conta-lhe que arranjou uma guerra com um colega professor
que a Editora da Correspondência Saraiva/Lopes, elucida tratar-se de J. Rentes de Carvalho.
Olha que dois!
«Mas quando as relações são a nível propriamente funcional, em que é
preciso agir e reagir em função de dados objectivos, falho completamente.
Foi o que agora aconteceu. Tive diante de mim um intriguista e
aventureiro de grande calibre, que numa primeira fase procurou captar-me, e
numa segunda intimidar-me. Quase desde o princípio percebi a qualidade do
sujeito, mas não fui capaz de proceder como era objectivamente necessário.
Deixei-me intimidar e ir a coisa longe demais. Faltou-me não só a capacidade de
ver friamente os dados da questão, mas a força e a presença para me impor e
para reagir a tempo.»
Em final de carta,
Saraiva disserta sobre o que vai acontecendo no mundo e conclui que «a chamada civilização ocidental chegou ao
fim, e já perdeu a alma. Mas não apareceu outra que a substitua e por isso ela
continua de pé e continuará, como um cadáver adiado.»
Por fim escreve:
«Que este 1974, em que ambos começamos a aproximar-nos dos 60, seja o
menos mau possível.»
De facto, os votos de
Saraiva ultrapassaram as suas prováveis débeis expectativas.
Por Abril aconteceu o
dia de todas as surpresas.
Tal como José
Saramago, num poema-depois-feito-canção por Manuel Freire, previra:
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