quinta-feira, 13 de setembro de 2018

UM AVENTUREIRO DE GRANDE CALIBRE!


A 24 de Dezembro de 1973, António José Saraiva está em Paris a gozar 10 dias de férias da Universidade holandesa onde colabora.
Neste dia escreve carta a Óscar Lopes e conta-lhe que arranjou uma guerra com um colega professor que a Editora da Correspondência Saraiva/Lopes, elucida tratar-se de J. Rentes de Carvalho.
Olha que dois!

«Mas quando as relações são a nível propriamente funcional, em que é preciso agir e reagir em função de dados objectivos, falho completamente.
Foi o que agora aconteceu. Tive diante de mim um intriguista e aventureiro de grande calibre, que numa primeira fase procurou captar-me, e numa segunda intimidar-me. Quase desde o princípio percebi a qualidade do sujeito, mas não fui capaz de proceder como era objectivamente necessário. Deixei-me intimidar e ir a coisa longe demais. Faltou-me não só a capacidade de ver friamente os dados da questão, mas a força e a presença para me impor e para reagir a tempo.»

Em final de carta, Saraiva disserta sobre o que vai acontecendo no mundo e conclui que «a chamada civilização ocidental chegou ao fim, e já perdeu a alma. Mas não apareceu outra que a substitua e por isso ela continua de pé e continuará, como um cadáver adiado.»

Por fim escreve:

«Que este 1974, em que ambos começamos a aproximar-nos dos 60, seja o menos mau possível.»

De facto, os votos de Saraiva ultrapassaram as suas prováveis débeis expectativas.
Por Abril aconteceu o dia de todas as surpresas.
Tal como José Saramago, num poema-depois-feito-canção por Manuel Freire, previra:


Legenda: J. Rentes de Carvalho

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