quinta-feira, 13 de setembro de 2018

A CAMINHO DAS ESTRELAS



Eternamente
hei-de amar a elegância dos sapatos de ténis
com Bjorn Borg venceu todos os adversários em Wimbledon
e deixou de boca aberta o nosso Ministro das Finanças
e com os quais ainda foi beber
o champanhe pela taça vestidinho de branco
como um anjo loiro e viking mostrando claramente
que nenhuma guerra é possível quando se tem olhos claros
e se usa uma fita no cabelo
sobre os olhos claros

E hei-de amar as finas tranças da 10 a Princesa das Conchas a Bo
Derek
como se amam as sedas importadas de Milão e
sobretudo aquelas covinhas que desesperam a Farrah Fawcett e
fazem adormecer e sonhar os adolescentes
e também o peito fértil que vale mais do que qualquer conspiração secreta
para definitivamente derrubar o Kremlin
amaldiçoando Lenine e todas as galinhas dos Kolkhoses
afinal as grandes responsáveis pela ameaça soviética
na Frente Ocidental

E como se torna evidente seguirei
o conselho das vedetas que desinteressadamente mostram o segredo de
como obter a felicidade através de uma pele aveludada e macia
usando o seu próprio sabonete;
amarei sempre o brinco de Barry Gibb que é um instrumento de paz
uma espécie de contrabomba de neutrões capaz de evitar o holocausto
a única esperança da Ecologia para a defesa e conservação das
espécies no deserto de Calaari e
do lince na Serra da Malcata
tornado um amuleto que nos protege a todos da loucura de Theo Maiman;
o Light Amplification by Stimulated Emissiom and Radiation que
corta uma parede de aço a alta velocidade
e é mais conhecido por Raio laser

Adoro o bigode de Dali e o chapéu de Sinatra
ambos monumentos simples mas significativos da divindade do Homem
quando pelos cinco continentes metade da Humanidade anda de gatas
os chineses ainda nem sequer inventaram o garfo
a macribiótica é o único caminho para o equilíbrio da Civilização Ocidental
e o governo argentino não deixa transferir para a Europa o meteórico Maradona
pelo preço da construção de pelo menos cinco hospitais

E hei-de delirar com as deliciosas gargalhadas dos nossos ministros
e com o ar enlutado que puseram quando faleceu o grande Partisan
e com a pressa que tiveram em emalar o pijama e a máquina de barbear
para estarem presentes no funeral
mostrando ao mundo inteiro quanto lamentamos a morte de Tito
quando mandam carregar a Guarda Nacional sobre as sementeiras no Alentejo
em nome da Lei e da Rosa
por uma sociedade mais justa
e mais fraterna

Estarei sempre ao lado da incomensurável dor dos Tribunais
e dos desgraçados juízes que não tiveram outra solução senão libertar os Pides
mas rezarei para que a morte de Pablo Neruda tenha sido
mais um bluff de Pinochet
e as tripas do duplo que foi a enterrar incendeiem o enxofre
e das alturas de Macchu-Picchu a lava faça levantar as águias e os condores
para que devorem nas praças públicas os olhos do Governo Fantoche
e sejam restituídos às mães os seus filhos mortos
agora de cobre e basalto
coroados de sangue

E seguirei o mesmo trilho das mulas na Província
dizendo os meus versos em esplanadas e colectividades de recreio
em Castro Verde ou Castelo Branco;
escreverei odes de louvor à nossa paciência e direi
para achega ao Problema da Habitação de Ruy Belo
como a Maria Velho da Costa
que de noite todas as casas são pardas
continuando a gostar de bombons e caldo verde
interessado pela notícia da destruição do Baleeiro Sierra
e pela defesa intransigente da BB das focas bebés
comendo sanduíches de presunto com uma dor na alma
como só podem sentir os grandes e verdadeiros artistas
a caminho das estrelas

Joaquim Pessoa em Os Dias da Serpente

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