Mais de uma vez,
expressei por aqui a ideia de que os romances de António Lobo Antunes
tornaram-se-me de difícil leitura, por vezes, mesmo incompreensível.
De um só fôlego li Memória de Elefante, Os Cus de Judas,
Explicação dos Pássaros e disse para comigo que tinha ali um autor para a
vida.
Acontece até que os
títulos que Lobo Antunes arranja para os seus romances, são uns excelentes
achados. Mas já são livros que não li, ou deixei-os nas primeiras 50 páginas,
que é a medida que coloquei a mim mesmo para que um livro me leve até ao fim.
Exemplos:
Não Entres Tão
Depressa Nessa Noite Escura,
Que farei quando
tudo arde?,
Boa Tarde às
Coisas Aqui em Baixo,
Que Cavalos São
Aqueles Que Fazem Sombra no Mar?,
Não É Meia Noite
Quem Quer,
Caminho Como Uma
Casa Em Chamas,
Para Aquela que
Está Sentada no Escuro à Minha Espera
Até Que as Pedras
Se Tornem Mais Leves Que a Água
A Última Porta
antes da Noite.
Sou, pois, um
desistente leitor de António Lobo Antunes.
Hélas!
Pelos tempos que
correm, apenas leio as crónicas que vai publicando na imprensa, e que,
lamentavelmente, o autor determinou que não mais seriam recolhidas em volume.
A editora que o
suporta consentiu na patetice do autor, ou teve receios que o autor, dado o seu
conhecido mau feitio, saísse porta fora a caminho da concorrência.
Mas volta e meio pego
em alguns livros para os trazer até ao Olhar as Capas.
Foi o caso, agora, de
A Morte de Carlos Gardel.
Não consegui repegar.
Andei aos saltos pelas páginas sem alegria, mesmo com desconforto para
encontrar uma citação que é norma colocar no Olhar as Capas.
Soube-se agora que
António Lobo Antunes foi chamado a fazer parte da prestigiada Colecção Pléiade.
Disse aos
jornalistas:
«Sonhei com este prémio desde a adolescência até
agora. É o maior reconhecimento que se pode ter enquanto escritor, muito maior
do que o Nobel.»
Onde estiver, José
Saramago não deixou de largar um enorme sorriso.
Há espinhas que nunca
conseguimos descravar da garganta.
«e o Álvaro limpava um disco com a escovinha, colocava-o no prato,
premia um botão, Carlos Gardel começava a cantar, e ele - Se eu fosse capaz de
um grito assim era feliz»
A páginas 160 de A Morte de Carlos Gardel
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