Carta de António José
Saraiva, datada de Maio de 1980, para Óscar Lopes:
Mas do ponto de vista científico devo prevenir-te contra os efeitos
nefastos do fanatismo. Por exemplo, na p. 1139 da 11ª edição da História da
Literatura ligas os romances do Nuno de
Bragança e de Dinis Machado ao 25 de Abril. Ora o livro principal do Nuno
Bragança foi publicado em 1969, e o do Dinis Molero (que na minha opinião está
longe de ser um grande livro) podia perfeitamente ter sido publicado antes,
pois nada tem que ver com a problemática do 25 de Abril. Claro que tomas
preocupações de estilo: falas de «uma carreira recente» e do «fulminante êxito
de um livro ambos marcados pela problemática e pelo degelo trazidos pelo 25 de
Abril.» A «carreira» é a do Nuno de Bragança, o que te permite meter no mesmo
saco A Noite e o Riso (que é um
grande livro) e a Directa (1977) que
está longe de atingir o mesmo nível. Mas quem ler desprevenidamente julga que o
25 de Abril teve algum efeito na literatura, o que sabes perfeitamente que é
falso. Já lá vão seis anos e não se viu nada, nem sequer os célebres originais
«na gaveta». O que prova afinal que a literatura tem muito pouco a ver com as
peripécias da política, como alíás já sabíamos. É lamentável que tenhas deixado
passar para um livro científico um slogan ideológico, ou melhor partidário.
Legenda: Nuno Bragança
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