quinta-feira, 13 de setembro de 2018

SEM UMA SAUDADE ANSIADA


Era Setembro, e a casa, temporariamente habitada expulsava o seu caráter de abandono e de ruína, com aquele calor de vozes e de passos que amarrotam folhelhos amontoados em todos os sobrados. O tempo estava morno, impregnado dessa quietude de natureza exaurida que se encontra num baque ondulante de folha ou na água que corre inutilmente pela terra eriçada de canas donde a bandeira do milho foi cortada. Desde a morte de Quina, nunca mais a casa tivera aquela emanação de mistério grotesco e ingênuo; e Germa não encontrava mais sabor nos serões ao borralho, mexendo as achas, fazendo rodinhas de fogo- preso com o atiçador esbraseado, ou catando nos escanos o rapa do Natal, em cujas fazes as letras tinham sido desenhadas com tinta venenosa de bagoinhas. Ah, Quina, tão estranha, difícil, mas que não era possível recordar sem uma saudade ansiada, quem fora ela?

Agustina Bessa-Luís em A Sibila«

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