Era Setembro, e a casa, temporariamente habitada expulsava o seu
caráter de abandono e de ruína, com aquele calor de vozes e de passos que
amarrotam folhelhos amontoados em todos os sobrados. O tempo estava morno,
impregnado dessa quietude de natureza exaurida que se encontra num baque
ondulante de folha ou na água que corre inutilmente pela terra eriçada de canas
donde a bandeira do milho foi cortada. Desde a morte de Quina, nunca mais a
casa tivera aquela emanação de mistério grotesco e ingênuo; e Germa não
encontrava mais sabor nos serões ao borralho, mexendo as achas, fazendo
rodinhas de fogo- preso com o atiçador esbraseado, ou catando nos escanos o
rapa do Natal, em cujas fazes as letras tinham sido desenhadas com tinta
venenosa de bagoinhas. Ah, Quina, tão estranha, difícil, mas que não era
possível recordar sem uma saudade ansiada, quem fora ela?
Agustina Bessa-Luís
em A Sibila«
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